domingo, 29 de janeiro de 2012

Capítulo Quatro
Fevereiro, 2006

Chovia. Há quase três meses chovia sem parar. As nuvens eternas moravam nos olhos de Demetria, e continuariam ali para sempre. Londres estava sempre nublada, mas não fora ali que começara, e sim na Califórnia. Na ensolarada Califórnia. Ironia?
Ironia era lhe tirarem todos que amavam. Não, era apenas trágico. Uma tragédia, realmente. “Todos lamentamos sua perda, Demi” lhe diziam “mas você não pode ficar assim para sempre”. Ora, vejam só, pelo o que parece, ela podia sim.
Não ligava para mais nada. Levantou-se da cama, cansada de ficar ali. Joe se mexeu ao seu lado, acordando. Demi olhou para o relógio, não tendo a mínima noção da hora. Eram apenas seis da manhã. De que importava?
Caminhou, silenciosamente, até o único quarto que lhe interessava. Suspirou ao entrar, tudo continuava igual: completamente morto, mas ainda assim, trazia uma grande onda de alívio. Tudo ali a lembrava de Stella. A pequena cama, as paredes cor de rosa, os quadros infantis e as estrelas que enfeitavam o teto. Os bichinhos de pelúcia na estante sorriam diabolicamente e a caixinha de música, na mesa, parecia tocar a todo tempo.
Tudo estava no exato lugar há mais ou menos quatro meses, quando Demetria e Stella deixaram Londres, sem saber que este quarto nunca mais seria habitado. Para falar a verdade, ninguém nem ao menos tinha limpado o quarto, Demi não deixara, não queria que o cheiro da filha sumisse.
Ela abriu o armário, vendo todas as roupas arrumadas. Demi colocara as roupas que estavam na mala de volta no armário, aquilo a fazia sentir melhor, como se Stella fosse precisar delas alguma vez. Procurando a fundo, encontrou um pequeno cobertor, que usava para enrolar a filha quando era apenas um bebê. Pegou o cobertor e o abraçou, cheirando-o. Há muito tempo tinha sido lavado e guardado, mas Demi preferia pensar que tinha rastros de Stella ali.
Sentando-se em uma cadeira de balanço, ainda segurando o pedaço de pano, começou a cantarolar a música que normalmente tocava no quarto, “Além do arco-íris”, do Mágico de Oz. Era uma música bonita, percebeu, gostava da melodia.
Stella gostava, ela gostava de qualquer música.

Dezembro, 2004

A pequena usava um vestido rosa e uma fita vermelha envolvendo a cintura, fazendo com que parecesse um presente. Seu cabelo estava um pouco abaixo do queixo, deixando seu rosto com um formato redondo, que lhe caía bem. As bochechas rosadas eram enormes, ela parecia um anjo. Um rosto que, no momento estava molhado e inchado devido às lágrimas
- Vamos, Stell, pare de chorar. – Demetria dizia, enquanto tentava tirar o vestido da filha, para colocá-la em uma camisola – Se não se comportar, Papai Noel não vai lhe deixar nenhum presente. – Alertou-a.
- Mas eu não quero dormir, mamãe... – Ela implorava – Quero ficar acordada!
- Nada disso. – Falou cansada – Já passou da hora, querida. Quanto mais cedo você dormir, mais rápido vai acordar amanhã, então poderá abrir todos seus presentes.
Vencida pelo sono, a menina deixou a mãe colocá-la em um pijama e deitá-la. Mesmo sendo apenas seu terceiro natal, ela sabia bem que no dia seguinte, milhões de presentes estariam a esperando debaixo da árvore, no primeiro andar. Papai Noel os deixaria lá enquanto ela dormia, e em troca comeria os biscoitos que ela havia preparado com sua avó paterna e sua mãe. Os avós vieram do interior para passar o Natal, vovô havia lhe contado que a daria mais um presente se ela se comportasse bem. Esse era o único motivo para estar indo dormir.
- Mamãe... – Chamou – Canta uma música para mim? – Quando a mãe começou a cantar “Brilha, brilha estrelinha”, ela a interrompeu novamente – Essa não, outra! Canta a da caixinha. – Pediu, já que só conhecia a melodia e não a letra.
Demetria demorou para conseguir se lembrar da letra. Foi até a caixinha, rodando-a e colocando-a para tocar a parte instrumental. Lentamente, começou a sussurrar a parte da música que sabia.
- Somewhere over the rainbow, blue birds fly and the dreams that you dream of, dreams really do come true* - Murmurou, até perceber que Stella já estava dormindo.
Deu um beijo na cabeça da filha, deixando-a dormir.

* Em algum lugar depois do arco-íris, pássaros azuis voam e os sonhos que você sonhou, sonhos realmente se tornam realidade.

Fevereiro, 2006

Demetria murmurava a música, como se ainda cantasse para Stella. Balançava a cadeira para frente para trás, enquanto segurava o cobertor em seus braços, como se tivesse um recém-nascido ali. O movimento era reconfortante, porém apenas a iludia. Enquanto se balançava, as lágrimas não apareciam. Enquanto deixava se envolver por lembranças, não sentia dor.
Podia ser passado, poderia nunca voltar, ser uma ilusão, mas qualquer coisa era melhor do que a realidade. Mesmo que significasse perder a sanidade. Continuou ali, movendo-se para frente e para trás, cantarolando. Assim os problemas desapareciam.
Sentiu os raios solares esquentarem seu braço, mostrando que já havia amanhecido. Há quanto tempo esteve ali? Talvez horas, talvez meses. Pelo canto dos olhos, percebeu que estava sendo observada. Queria pedir a ele que fosse embora, mas não conseguia parar de murmurar a música. Suspirou de alívio ao perceber que estava sozinha novamente, não queria ninguém a perseguindo.

Ao lado da porta, Joe não quis que as lembranças o impedissem de chorar, pelo contrário, as lágrimas caíam. Podia ouvir Demetria murmurar “Somewhere over the rainbow” em um ritmo lento e torturante. Espiou-a por um segundo, o suficiente para entender o que ela estava fazendo, fingindo que balançava um bebê.
Sua dor era imensa, a culpa por ter causado o acidente de Stella o perseguia todos os dias, mas nada era pior que encarar Demetria. Ela não havia perdido apenas a filha, havia perdido a si mesma. Era apenas um fantasma, que caminhava pela casa sem objetivo, que ia do quarto da filha para o próprio quarto. Tinha que obrigá-la a tomar banho e a comer, senão ficaria parada para sempre. Estava tão magra que todos seus ossos estavam visíveis, seus cabelos estavam secos, precisavam ser cortados, sua pele estava pálida e morta. Pelo menos ela respirava.
No primeiro mês após a morte de Stella, Demi tentara se juntar à filha de todas as formas possíveis. Tomou vários comprimidos, bateu o carro, parou de comer. Até o dia em que Joe a viu segurando uma faca. Ele conseguira impedir, a sacudiu, tentando fazer com que ela voltasse a si, porém Demi apenas chorava e depois o mandou se afastar, para não tocá-la. Joe o fez, pois via em seus olhos que ela o culpava e que ele seria a última pessoa de quem ela aceitaria ajuda. Ele tirou os objetos perigosos da casa, escondeu, colocou grades nas janelas e jogou fora todos os medicamentos, qualquer prato ou copo de vidro foi substituído por um de plástico, que não teria como feri-la. A casa estava à prova de suicídios, e logo Demetria se esqueceu de tentar se matar, apenas se desligou do mundo por completo.
Às vezes, ela ia para o quarto deles e dormia ao seu lado, porém nunca mantinha contato físico. Outras, ela ficava no quarto de Stella, dormindo lá, não saía durante todo o dia. Uma vez, Joe tentara levá-la no colo, mas ela se desesperou, mandou que a largasse. E o que poderia fazer? Cada dia se afastava mais, deixando-a em seu mundo, mantendo contato para verificar se continuava viva, nada mais.
Não sabia mais o que era conversar com a esposa, nem olhares eles trocavam. E aquilo estava o matando. Queria sua Demi de volta. Queria Stella de volta. Queria sua felicidade.

Dez coment's para o proximo

Respondendo as minhas fofolet's ;)

Lourena Lovato: kkkk Caminha Lorena ela não vai virar uma psicopata não!! ;)

Aninha: Sim, sim. Eu pedi autorização para a Flávia pra mim reposta. Esa tudo nos conformes!! ;) 


Nina: Calma ainda vai aparecer como foi o acidente!! ;) Paciência!! uahsa 

11 comentários:

  1. ahhhhhhhhhhhhhhhh q coisa eu tinha acabado d sair daki pq ñ tinha cap e vejo q vc postou no tt.. thanks.. ah isso ta tão triste =( mas ela vai se recuperar né?

    ResponderExcluir
  2. Ahhhhh nem preciso dizer que estou chorando rios aqui né?
    Sério!! A Demi tem que melhorar e perdoar o Joe! Ele está sofrendo tanto com ela!
    Posta logo!!
    Beijos*

    ResponderExcluir
  3. tadinha da Demi, e do Joe também
    POSTA LOGO
    a Demi vai melhorar e perdoar o Joe né?
    POSTA LOGO
    Beijos

    ResponderExcluir
  4. cap perfeito....


    tadinha da demi e do joe, q pecado, ele ta pior q ela, pois se sente culpado...

    bjo bjo e posta logo

    ResponderExcluir
  5. Não sei se fico com mais pena do Joe ou da Demi, ela tem que perdoa-lo, tadinho,além de ter perdido a filha,ele está perdendo a mulher.

    ResponderExcluir
  6. Coitadinhos!!!

    Essa fic está ótima!!

    Posta mais quando der!!

    Bjo

    ResponderExcluir
  7. Tadinho do Joe... a Demi ta ficando doida? um gato desses em casa e ela so fica igual a um zumbi, sera q a Stella vai aparecer pra Demi O.O Posta logo Bjinhos

    ResponderExcluir
  8. nao eu sei é que eu estava em duvida sem te que pedir permissão por que eu to querendo reposta uma que eu achei linda

    ResponderExcluir
  9. pOsta por favor,coitada da Demi!Coitado Do JOE!

    ResponderExcluir
  10. Muito triste...Posta Logo flor

    ResponderExcluir