quinta-feira, 29 de março de 2012

Capítulo Dezesseis

Capítulo Dezesseis

Junho, 2010

Demetria suspirou ao ver que sua menstruação tinha chegado novamente. Não deveria estar surpresa, não é como se estivesse tentando engravidar novamente. Mas cada vez que via o sangue, ela só conseguia pensar em como ela deveria estar grávida nesse exato momento. Com quantos meses ela estaria? Quase sete, pensou.
Não devia pensar nisso, essa era sua tática. Se não voltasse a pensar sobre o assunto, logo ela esqueceria. Sabia que era mentira, mas era o melhor que podia fazer. Tinha concordado com Joe que eles não poderiam se deixar levar pela tristeza. Estavam tentando.
Demetria admitia que não estavam tendo muito sucesso nisso, entretanto. Tinha dias que ela tinha certeza que Joseph estava a um passo de voltar a beber e, às vezes, ela só queria se juntar a ele. Era difícil conseguir forças para continuar enfrentando dia após dia, mas eles estavam fazendo isso juntos. E isso era o que importava. Se continuassem juntos, nada poderia abalá-los. Ou, pelo menos, quase nada.
Demi ouviu uma risada de criança e algumas vozes vindo do andar de baixo. Provavelmente Selena e Nick haviam chegado com Elle e Oliver, já que eles tinham combinado de almoçar juntos. Demetria respirou fundo antes de sair do banheiro, pronta para encarar mais um dia fingindo que tudo estava ótimo.
Tudo não estava nem perto de estar ótimo. Ainda estava tentando colocar sua vida nos trilhos e, quase sempre, era difícil demais. Mas estavam indo.

Setembro, 2010

Demetria abriu a porta para que Catherine entrasse rapidamente, mas a irmã simplesmente a entregou umas mil bolsas e empurrou o carrinho do filho para dentro de casa. Desculpou-se por não poder entrar, dizendo que estavam quase perdendo a reserva no restaurante, agradeceu por Demi cuidar de Noah naquela noite e depois voltou para o carro, onde Kevin a esperava.
Os dois sairíam naquela noite para comemorar seu segundo aniversário de casamento e deixaram Demi cuidando do filho. Catherine não queria, é claro, se dependesse dela levariam o filho para todos os lugares, mas Kevin insitira que Demetria podia cuidar dele por algumas horas. Era bom que Cath fosse se acostumando, já que eventualmente ela teria que voltar a trabalhar e não poderia ficar com o bebê o tempo inteiro.
Demetria empurrou o carrinho até a sala, deixando-o ao lado do sofá. Noah ainda estava dormindo, Demi esperava que ele acordasse logo, era melhor do que acordar só de madrugada. Ela se sentou no sofá, ligando a TV no mudo, com medo de acordá-lo e ficou apenas observando a criança por alguns minutos. Foi interrompida quando Joe desceu, descobrindo que Kevin e Catherine já tinham passado e ido embora, no intervalo de tempo em que tomava banho.
Não demorou muito tempo para que Noah acordasse e começasse a chorar. Pelas horas seguintes, Joseph e Demi entraram em uma rotina de pais, dando comida para o bebê, trocando a fralda, tentando fazer com que ele dormisse e o entretendo. Fazia muito tempo que não cuidavam de uma criança, não sozinhos, pelo menos. E, para falar a verdade, ambos estavam morrendo de medo.
Noah ainda era muito pequeno, com apenas seis meses, e fazia anos desde que os dois tiveram contato com um bebê dessa idade. É claro, eles sabiam o que fazer, não era tão complicado cuidar assim de uma criança por uma noite, o dilema interno que se passava era muito mais difícil de lidar.
Demi já tinha encontrado e segurado Noah muitas vezes antes, mas sempre com Catherine por perto, e a irmã nunca a deixava realmente cuidar dele. Fazer isso agora, fazia com que algo dentro de Demetria despertasse.
Se não tivesse sofrido um aborto, estaria perto de dar a luz. Era engraçado, porque faltavam apenas algumas semanas para o dia que seria o aniversário de oito anos de Stella. Já fazia alguns meses desde que perdera o bebê, ela já poderia engravidar novamente. Mas será que ela correria esse risco?
Ela sabia que podia ter outros filhos, a médica havia lhe explicado que o que tinha acontecido não tinha nada a ver com ela. Isso era óbvio, afinal ela já tinha tido uma filha, sabia que não tinha nada de errado com seu útero. Não sabia, entretanto, se não havia nada de errado com sua mente. Ela estava bem agora, quão bem ela poderia estar.
Ela estava se reerguendo, já se considerava feliz, hoje em dia. Ela costumava sair com Selena e com algumas de suas antigas amigas, às vezes assistia a alguns shows do McFly, frequentemente visitava Catherine e Kevin ou saíam para almoçar juntos. Ela e Joe eram felizes um com o outro, raramente ficava um clima sombrio na casa. Demetria gostava disso. Se ela tentasse engravidar novamente, poderia acabar sofrendo outro aborto, e, dessa vez, não tinha certeza se conseguiria aguentar.
Perder outro filho fora duro demais. Ela nunca aguentaria passar por isso pela terceira vez. Mas ver Noah se afagando no seu colo, puxando seu cabelo e balbuceando palavras inexistentes, fazia com que ela desejasse um bebê.
Ela podia adotar, já pensara nisso muitas vezes. Mas novamente vinha aquele pensamento em sua cabeça: que ela não era capaz de ter um filho. Ela queria provar a todos – queria provar a si mesma – que conseguiria ter um filho. Ela conseguiria ser mãe, apesar de todos os obstáculos.
Tudo o que precisava fazer era ter coragem. Coragem de tentar mais uma vez, a última vez. Talvez ela estivesse sendo estúpida, afinal o universo tinha deixado bem claro que não era seu destino ser mãe. Mas era seu sonho, e não se pode simplesmente desistir dos sonhos. É preciso ter esperança, porque enquanto a tivesse, seria tudo seria possível.

Demetria continuou pensando sobre o assunto até Catherine voltar para pegar Noah, que já estava dormindo quase profundamente. Ela agora tinha a certeza que queria tentar mais uma vez, apenas para ter certeza. Não iria colocar nenhuma espectativa, pelo menos não até a gravidez estar bem avançada, mas tentaria. Todavia, não sabia o que fazer com esse recém-adquirido conhecimento. Deveria falar com Joe ?
Ele fora um pouco oposto a última tentaiva de engravidar e veja no que aquilo havia dado. Ela duvidava que ele fosse ficar feliz com a ideia. Provavelmente acharia que aconteceria outro acidente. E que argumentos ela teria, afinal? Era verdade.
- Vamos lá para cima, querida, você está quase dormindo acordada – Joseph falou, cutucando Demetria para despertá-la de seus pensamentos.
- Não estou dormindo, estou pensando – Respondeu, ainda meio perdida, mas acabou levantando mesmo.
- Pensando no que? – Ele perguntou, enquanto seguia Demetria até o quarto.
Demetria não o respondeu até chegarem no quarto, fazendo com que Joseph franzisse o cenho, ficando curioso para saber sobre os pensamentos da esposa.
- Eu quero ter um bebê – Ela falou fazendo com que Joe parasse na entrada do quarto – Eu quero tentar de novo, Joseph .
- Agora? – Ele riu, se aproximando de Demi , fazendo com que ela apenas revirasse os olhos – Isso é sério, Demi ? Você não só ficou com saudades hoje por cuidar de Noah? – Ele falou, sentando-se na cama.
- É claro que é sério, Joe – Ela respondeu irritada – Eu venho pensando nisso há alguns dias. Eu quero ser mãe. Nós podíamos tentar só mais essa vez... Se eu não conseguir engravidar, nós podemos pensar em adoção. Por favor, Joe – Ela pediu, se aproximando do marido.
- Você tem certeza disso? – Ele suspirou – Demi , nós acabamos de passar por uma perda, não sei se estou pronto para outra.
- Não vai ter outra – Ela falou – Nós vamos no médico o tempo todo e fazer de tudo para que dê certo essa vez. E vai dar! Vamos, Joe , eu sei que você também quer – Demetria ficou apenas o encarando, até que Joe sorrisse e a puxasse mais para perto a beijando.


- Tem algo que eu preciso fazer antes de engravidar – Demetria disse, enquanto observava Joe quase dormindo, deitado ao seu lado na cama, ele apenas grunhiu como resposta, fazendo com que Demi o cutucasse para que ele abrisse os olhos – Eu preciso voltar para lá.
Isso fez com que ele acordasse um pouco, franzindo o cenho.
- Lá aonde?
- Califórnia – Respondeu – Eu preciso encarar aquela casa. Acho que nós dois precisamos.
- Essa é uma péssima ideia, Demi – Ele falou, perdendo o sono e sentando-se na cama – Nós não precisamos ir até lá. Nós já superamos isso, não é? Irmos até os Estados Unidos só vai servir para deixar-nos tristes e vai piorar tudo.
- Ótimo, então fique aqui você, eu vou até lá – Disse, estressada pela rejeição de Joe, mas em seguida completou: - É importante, Joe. Eu sinto que se não fizermos isso, nunca vamos nos despedir de verdade e vai ser como se Stella sempre assombrasse nossas vidas.
- Isso é ridículo – Falou, encerrando o assunto e deitando-se novamente.
Mas, no fundo, ele sabia que não era. E mesmo se fosse, era importante para Demi, então ele acabaria fazendo de qualquer forma. Não custava nada ir até lá. Talvez fosse um pouco doloroso, mas talvez valesse a pena. Eles precisavam se despedir. Eles precisavam, finalmente, começar a vida de verdade.
Joe fechou os olhos, dormindo imediatamente, quase como se fosse uma defesa de seu cérebro para que ele não pensasse mais sobre o assunto. Naquela noite, teve um de seus piores pesadelos há mais de um ano, sonhara com o acidente. Não era raro que ele tivesse pesadelos com aquele dia, mas os piores eram os que que eram tão reais que Joe precisava de alguns minutos para se acalmar depois de acordar, lembrando-se que isso já tinha acontecido há muito tempo. Já tinha acabado. Não tinha certeza se era reconfortante.

15 coment's para o proximo

Bom, meninas só não vou fazer maratona porque tenho que procurar outra história pra posta pra vocês. Como estou sem tempo esses meses nem continuei a escrever. Então estou apenas repostando. Me dem um tempinho que logo logo venho com outras historias e faço maratona pra vocês. Sabem que eu não sou de decepcionar vocês né?!? Bem pelo menos é o que eu penso!! Bjs e até mais

SEJAM BEM VINDAS AS NOVAS SEGUIDORAS!! =D pOR FAVOR NÃO SUMAM VIU!! ;)

quarta-feira, 28 de março de 2012

MIL DESCULPAS!!

Bom meninas espero que não estejam querendo me matar.
=D
Estava sem internet!!
¬¬ essa operadora é uma merda.
ai não deu pra posta mas amanha eu vou postar sem falta. É que estou  doente tbm e tenhu prova dificil, mas não esqueci de vocês lindas.

AMANHA SEM FALTA LA PELAS 17:00 ESTAREI POSTANDO A PARTE UM DO PENULTIMO CAPITULO!!! ;)

Espero que me compreendam.
Nesse momento estou passando rapidinho pra avisar vcs. de teimosia pq deveria estar estudando. ;)
bjs e até amanha
;***

sábado, 24 de março de 2012

Capítulo Quinze  
Parte 2

Abril, 2010

Já haviam se passado duas semanas, porém tudo continuava o mesmo. Demetria não chegaria a dizer que a situação era igual a que sucedeu a morte da filha, mas era muito próxima. Pelo menos em relação a sua relação com Joseph. Ela continuava indo ao trabalho, apesar de obviamente estar o fazendo pior, estava tentando. Joe, por sua vez, quase não parava em casa e quando estava, eles não se falavam.
Eles se viam todos os dias no jantar, mas nenhuma palavra era trocada durante a refeição. De noite, dormiam um ao lado do outra, mas sem se tocar. Demetria se perguntava se esse seria o fim de seu casamento. Ela imaginava que não, nenhum dos dois teria coragem de se divorciar, assim como não tiveram após a morte de Stella.
Alguns dias, Demi acordava bem. Ela pensava que não era tão grave assim. Ela havia perdido um bebê, e daí? Isso acontecia todo dia com milhares de mulheres, nem por isso elas desistiam.
Entretanto, ela não era “milhares de mulheres” e ela já havia perdido coisas demais.
O dia que se seguiu a ida ao médico, provavelmente fora um dos piores. Catherine ligara para ela, para saber notícias do bebê; Demi não queria preocupar a irmã, que estava ocupada demais cuidando de Noah, mas não conseguiu mentir e dizer que estava tudo bem. Quase desmoronou em lágrimas, ao contar que havia abortado espontaneamente. Daquele vez, porém, Catherine não podia simplesmente abandonar tudo para cuidar da irmã. Ela tinha um filho para cuidar e, como Cath já sabia por experiência, seria melhor não trazer um bebê com Demetria naquele estado.
Mais tarde no mesmo dia, Selena ligara para ela. Joe já havia contado para Nick, então Selena já estava sabendo, o que não tornou a conversa menos dolorosa. Sel queria passar na casa de Demi, no dia seguinte, para ajudar a amiga, mas Demetria insistiu que queria ficar sozinha. O que, para falar a verdade, só deixou-a mais preocupada.
Demetria realmente queria ficar sozinha. Ela saía de casa todo dia e conversava com seus clientes, mas era só isso: assuntos do trabalho. Ela colocava todos seus pensamentos nisso, porque se parasse por um segundo para pensar, ela conseguia sentindo a tristeza se espalhando. Não conseguia evitar.
Ela queria ignorar o que tinha acontecido. Queria acordar um dia e encarar a situação como uma pessoa normal. Queria não ser tão fraca.
Queria que Joe não estivesse mal também. Isso só a deixava pior. Da última vez, ela estava depressiva demais para reparar a existência de qualquer outra pessoa, agora, porém, ela não estava tão mal, ela via Joe todo dia, ela realmente o via. Às vezes, Demi queria mudar, queria deixá-lo se aproximar, mas cada vez que tentava acabava piorando a situação.

Após terminar de jantar, Demetria levantou-se, levando o prato até a pia. Joe ainda estava comendo, porém ela não pretendia esperá-lo. Não que tivesse muito o mais o que fazer, apenas não gostava do silêncio constrangedor que se estabelecia no cômodo. Ela já estava quase terminando de lavar sua louça, quando sentiu Joseph se aproximando dela e colocando seu próprio prato na bancada da cozinha. Demetria esperou que ele se afastasse, mas ele apenas continuou no mesmo lugar.
- Demi – Ele murmurou, fazendo com que ela se virasse, um pouco assustado.
Não é que eles literalmente não tivessem se falado nas últimas semanas. Às vezes, eles conversavam um com o outro, apenas para acabar com o silêncio, apenas sobre superficialidades. Às vezes, era só um “boa noite” e “com licença”. Demetria conhecia aquele tom de voz e aquele olhar, Joe não queria apenas quebrar o silêncio.
Joseph a encarou por alguns segundos, como se ponderasse o que ia dizer.
- Vai ter uma festa na casa de Liam, no sábado – Ele falou, desviando o olhar. Demetria terminou de lavar a louça, se afastando da pia, e Joe assumiu seu lugar, lavando o que tinha usado – Ele pediu Jenny em casamento. Eu queria que você fosse comigo.
- Fico feliz por eles. Mas preciso trabalhar sábado.
- Demi. Você pode tirar uma folga – Ele falou, e Demi o olhou irritada; de fato, não era nada indispensável – Todo mundo quer ver como você está. Kevin comentou que Catherine está preocupada.
- Cath me viu final de semana passado, não tem porque se preocupar.
- Eu te vejo todo dia e estou preocupado.
Demetria não respondeu, não saberia o que dizer. Que ele não precisava se preocupar? Ela não conseguia mentir tanto assim, até ela mesma se preocupava, achava que estava a um fio de a qualquer momento voltar a um estado de depressão. Mas não queria que Joe ficasse se preocupando com ela.
- Vamos, Demi. É só fingir que tudo era como antes, só por um dia – Ele tentou se aproximar de Demi, mas ela apenas se afastou indo em direção a cozinha.
Joseph a segurou pelo braço. Não muito forte, só o suficiente para fazê-la parar e olhar para ele. Mais do que triste, Demetria parecia com raiva no momento.
- Eu não consigo fingir, Joseph, me desculpe – Ela tentou se desvincilhar de Joe, mas ele não a soltou.
- Eu não vou deixá-la ir embora de novo, Demi. Eu não vou te abandonar novamente – Ele, calmamente, soltou seu braço, deixando Demetria livre para ir embora se quisesse, ela, porém, continuou parada – É normal você ficar triste, Demi, eu também estou. E eu vou estar aqui quando você resolver que está pronta.
Demetria não falou nada. Apenas balançou a cabeça, sem nem ao menos saber para o que estava dizendo “não”, sentiu os olhos ficarem marejados, então se retirou da cozinha, trancando-se no quarto novamente. Não estava pronta. Talvez nunca estivesse. Talvez nunca tivesse estado.

Eles não se falaram novamente até o final de semana. De vez em quando, Joe a olhava significantemente, mas ela apenas desviava o olhar, fingindo não perceber. Demetria continuava sem saber se deveria ir na festa de Liam e Jenny ou não. Em parte, queria ir, porque adorava os dois e estava realmente feliz por eles, gostaria de rever seus amigos; mas não conseguiria estar feliz de verdade, então qual era o objetivo de ir? Estragar a festa com sua tristeza contagiante?
Ela estava falando a verdade quando disse a Joe que tinha trabalho para fazer. O fato de seus clientes terem cancelado em cima da hora, não mudava isso. Ela ainda tinha muito o que resolver, não tinha tempo para ficar indo fazer nada em uma festa.
Imaginava se Joseph ficaria irritado, ele parecia determinado em fazê-la ir naquele dia. Demetria não conseguia descobrir porque, não era, nem de perto, o primeiro evento que ela deixava de ir. Ele sabia como ela estava, por que tanta insitência, então? Logo quando Demetria estava decidida que eles tinham realmente se afastado, Joe a surpreendia. Não fazia diferença, dizia a si mesma, tudo continuava igual.
- Você não vem mesmo? – Joe perguntou, encontrando Demetria trabalhando em seu laptop no escritório.
- Eu tenho muito o que fazer – Ela respondeu simplesmente, sem nem ao menos desviar o olhar do que estava fazendo.
Joseph pareceu decepcionado, como se sua última gota de esperança tivesse secado. Demetria, porém, não viu isso. Ele se retirou do cômodo, indo embora de casa sem nem parar para insistir. Ele havia tentado.
Ele tinha a dado espaço. Ele tinha tentado fazer com que ela voltasse. Mas ela não queria. Não era como antes, Demetria não estava em uma depressão profunda: ela simplesmente se negava a agir normalmente. Ela não queria ajuda, e Joe não iria obrigá-la a ser ajudada. Ele continuaria vivendo sua vida e quando ela percebesse que estava perdendo sua vida, ela poderia se juntar a ele.

Tinham se passado apenas alguns minutos desde Joe saíra, mas Demetria se mexia inquieta na cadeira. Talvez ela devesse ter ido. Talvez ela devesse ter dado uma chance. Talvez ela devesse parar de ficar pensando tantos “talvez”. Sem conseguir continuar com o trabalho, ela fechou o computador e saiu de casa.
Não tinha nenhum rumo específico. Já estava de noite e o sol já havia se posto quase completamente. Demetria imaginou para onde para poderia ir, todos seus amigos estavam na festa. É claro, ela poderia ir até lá, mas com que cara iria aparecer? Joe provavelmente já inventara uma desculpa para Jenny e Liam, ela só estragaria tudo aparecendo no meio do nada.
Ela já estava andando há quase quinze minutos e estava começando a ficar com bastante frio, então resolveu dar a volta no quarteirão, voltando para sua casa. Tinha pensado que talvez refrescando a mente, ela se sentiria melhor. Mas só se sentia pior ainda. Por que estava errando tanto ultimamente?
- Demetria? – Alguém a chamou, fazendo com que ela parasse de andar imediatamente.
Ela conhecia aquela voz, não esperava ouvi-la nunca mais. Ou pelo menos tão cedo. Não que realmente pudesse chamar de cedo, já que não ouvia por quase dois anos.
- Jim? Olá! O que está fazendo aqui? – Ela se aproximou para cumprimentá-lo, tentando parecer o mais normal possível – Achei que você estivesse morando em Manchester.
- Eu estou, só vim aqui para visitar a família de Amelie – Ele disse, apontando em direção a mulher que estava o acompanhando, cuja presença Demi nem ao menos tinha reparado – Amelie, essa é Demetria. Demi, essa é Amelie, minha noiva – Em resposta à cara de surpresa de Demetria, ele completou: - Nós vamos nos casar no final do ano.
- Você vai se casar? – Ela abriu um sorriso – Que ótimo, parabéns!
- E você, Demi, como está?
Como ela estava? Ela estava andando sozinha pelo meio da rua, quase às oito horas da noite, sem rumo. Seu marido provavelmente estava irritado com ela, sozinho em uma festa e possivelmente triste. Ela havia perdido um bebê e não conseguia parar de se culpar por isso, mas não conseguia admitir isso para ninguém. Não conseguia nem ao menos conversar com Joseph. Sua irmã estava feliz e com um bebê recém-nascido, sua melhor amiga tinha dois filhos lindos e saudáveis, e agora Jenny e Liam estavam casando e sendo felizes também. Todos estavam acertando na vida, menos ela.
É, sua vida realmente não poderia ser melhor.
- Eu estou bem. Levando a vida – Se pelo menos isso fosse verdade, pensou, mas apenas sorriu.
- E Joseph, como ele está?
- Bem também. Em uma festa – Ela disse.
Notou que Amelie a olhava com uma cara de “seu marido está em uma festa e você está sozinha andando pela rua?”, mas talvez fosse apenas sua imaginação. Depois disso eles se despediram e cada um seguiu seu caminho.
Jim também estava feliz. Acresceu isso na lista de conhecidos que estavam em uma situação melhor que ela. Era mais fácil simplesmente adicionar todo mundo que ela conhecia. Estava sendo invejosa. Não era culpa de ninguém, além dela mesma, se ela não conseguia ser feliz. A culpa era dela se não conseguia ter um filho.
Então por que Joseph é quem estava sendo punido? Ela estava sendo ridícula e infantil não deixando-o se aproximar. Joseph estava só tentando ajudar, como sempre estivera. Ela precisava consertar tudo. Mas como? Ela estragava qualquer coisa que tocasse.
Ainda pensando, ela fez o caminho de volta para casa.

Joseph estava cansado. A maioria daquelas pessoas eram suas amigas, mas ele não estava se divertindo, nem um pouco. Não conseguia parar de pensar em Demetria. E se ele não tivesse tentado o suficiente? E se, por sua causa, Demetria voltasse a ficar em depressão. Talvez tivesse sido culpa sua o aborto, assim como havia sido sua culpa a morte de Stella.
Ele havia dito que não abandonaria, mas será que era muito melhor só se afastar e esperar? Isso não era, de certa forma, um abandono também? É claro que, se fosse assim, poderia dizer que Demetria tinha o abandonado também, mas mesmo que ela tivesse, isso não era motivo para ele fazer o mesmo.
Não, ele não iria abandoná-la. Mas com certeza o jeito com que estava lidando com tudo isso estava errado. Provavelmente. Ele não sabia, sua cabeça estava doendo. Ele só queria arranjar um jeito de fazer com que tudo desaparecesse. Queria ter um jeito de, pelo menos por algum tempo, esquecer os problemas.
Quase sem pensar, ele foi em direção ao bar, sentando-se e pedindo qualquer coisa para o barman. Ele sabia que não deveria beber, ainda estava sóbrio. Mas não por muito tempo. Já estava com a bebida na mão, ponderando as consequências de seu ato, quando sentiu alguém se aproximar por trás dele, tirando a bebida de sua mão.
- Ouvi dizer que não é bom beber durante a reabilitação – Demetria falou, citando o que ele tinha dito a ela no casamento de Kevin e Catherine.
- Demi? O que você está fazendo aqui? – Ele perguntou, um pouco envergonhado por quase ter sido pego bebendo.
- Eu vim acompanhar você – Ela disse, sentando-se ao seu lado e bebendo um gole da taça que tinha tirado da mão do marido – Nós vamos superar isso, Joe. Juntos, como sempre fizemos.
Ela apertou a mão dele, aproximando-se de Joseph e o abraçando. Não chorou. Era hora de amadurecer e enfrentar o destino.




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terça-feira, 20 de março de 2012

Capítulo Quinze

Capítulo Quinze

Março, 2010

Demetria caminhava em torno da mesa de jantar da casa de Selena enquanto carregava Noah de um lado para o outro. Desde que o sobrinho havia nascido, duas semanas antes, ela procurava qualquer oportunidade para segurá-lo. Catherine havia se provado uma mãe muito superprotetora e não gostava muito que outras pessoas que não fossem ela ou Kevin pegassem o bebê no colo; Demetria, porém, costumava ignorar suas reclamações. Só mais alguns meses e seria seu próprio bebê quem ela estaria segurando, Demi mal podia esperar. No dia seguinte, teria uma consulta no médico e esperava descobrir o sexo do bebê.
Era aniversário de um ano de Oliver e o quintal de Selena estava cheio de pais com bebês, e, dessa vez, Demi não se sentia deslocada. Não iria negar que às vezes era um pouco doloroso ver certas crianças, também não negaria que se preocupava com como ela reagiria ao bebê, quando ele a lembrasse tanto Stella que chegasse a doer.
Não importava, ela daria um jeito, tinha certeza. Olhou rapidamente para Joe, que conversava com Liam do lado de fora da casa, eles não tinham conversado muito sobre seus medos desde que descobriram da gravidez. Era melhor focar no lado positivo, pensamentos negativos atraem acontecimentos negativos. E nada poderia dar errado dessa vez.
Cansada de ficar andando de um lado para o outro, Demi sentou-se em uma das mesas que estavam espalhadas pelo quintal, e rapidamente Catherine apareceu procurando pelo filho, tirando-o dos braços de Demi e dizendo que já iria para casa. Ela estava cansada, ainda se acostumando com a vida de mãe. Demetria, por agora, pensava que sentia saudade até mesmo desse cansaço, quando o bebê nascesse, ela não tinha tanta certeza se continuaria pensando assim.

- Estou meio nervosa – Demetria admitiu, quando pararam em frente ao consultório.
Não sabia porque estava se sentindo assim. É claro que estava ansiosa para ver seu bebê, mas não fazia sentido tanto nervosismo. Não se lembrava de ficar assim durante a gravidez de Stella. Mas também, já havia se passado mais de oito anos, detalhes desse tipo já tinham sido distorcidos em sua mente.
- Não tem motivo, querida – Joe a acalmou, segurando sua mão – Vai estar tudo bem.
Ela assentiu, repetindo a frase várias vezes na sua mente. Como Joseph podia estar tão calmo? Ele não parecia nem um pouco nervoso, e Demetria invejava sua capacidade de não deixar-se afetar.
- E se for um menino? – Ela falou de repente, fazendo com que Joe começasse a rir – Eu não sei criar meninos.
Ela não falou, porém, que tinha ainda mais medo que fosse menina. E que fosse muito parecida com Stella. Preferia falar sobre seu medo secundário, era mais fácil de colocar para fora.
- Não se preocupe com isso, Demi. Não importa se é menino ou menina, você vai continuar sendo uma ótima mãe – Ele disse, saindo do carro e, depois, abrindo a porta para Demetria, obrigando-a a sair também.

- Certo, vamos começar. Ansiosos para ver o bebê? – A médica perguntou.
Demetria não respondeu, apenas riu nervosamente, demonstrando que estava mais do que ansiosa. Joe não disse nada, apenas apertou a mão da esposa, enquanto olhava para a tela, esperando que alguma coisa aparecesse. A médica começou a passar o aparelho na barriga de Demetria e, apesar de ser meio confuso, Joe não conseguia identificar nada parecido com um bebê na tela.
Demetria observou que a médica parecia não conseguir identificar também, já que fazia uma cara de confusão.
- O que houve? – Demi perguntou, começando a ficar preocupada e olhou de soslaio para Joe.
- Calma, às vezes é mais difícil de conseguir uma boa visão – Ela disse, mas parecia estar escondendo alguma coisa.
Eles ficaram em silêncio por algum tempo. A médica continuou procurando por alguma coisa, olhando para tela como se estivesse vendo algo que não gostasse. Demetria apertava cada vez mais forte a mão de Joe, mas ele já não se importava, estava preocupado demais tentando desvendar o comportamento da médica.
- Sinto muito, - A doutora falou – Sra. Jonas, o seu útero não está do tamanho que seria o normal para 14 semanas, eu estava verificando se estava tudo bem, mas... O coração do feto não está batendo – Ela continuou, com medo de ser mais explícita – Você sofreu um aborto espontâneo. É comum isso acontecer no início da gravidez...
Ela continuou falando, explicando as causas, mas já perdera Demetria. Joseph também já não escutava mais a médica, apenas olhava a esposa, reparando que ela estava ficando pálida e seu olhar estava meio vago. A médica falou que teriam que executar um processo de curetagem, para tirar o feto e a placenta, entretanto ela teve que repetir para que Joe entendesse. Nenhum tentou falar com Demi.
- Por quê? – Demetria falou de repente – Por que isso está acontecendo comigo?
Sabendo que não eram explicações científicas que ela queria, a médica optou pelo silêncio. E sem ter nenhuma resposta para a esposa, Joe fez o mesmo. Uma lágrima escorreu pelo rosto de Demetria, ela não se deu o trabalho de limpá-la. Ficou calada pelo resto da consulta, apenas obededendo à médica.

Demetria não falou nada até chegar ao carro, quando desmoronou em lágrimas. Joe não disse nada, apenas dirigiu até a casa. Ele queria abraçar Demetria, queria dizer que estava tão triste quanto ela, mas tinha medo que ela fosse reagir igual quando Stella morreu, afastando-o.
Demi estava preocupada demais com seus pensamentos, para notar qualquer tentativa de afeto de Joseph. Ela não conseguia parar de pensar “Por quê?”. Todos, literalmente todo mundo, havia lhe dito que tudo ficaria bem dessa vez. Que ela estava certa de continuar, de tentar ter outro bebê. Que nada de errado aconteceria. Para que? Só para que ela tivesse todo esse trabalho de se reerguer, colocado suas esperanças lá no alto, apenas para vê-las desabando em um segundo.
Não era justo. Não era justo que ela perdesse tudo o que ela queria. Não era justo que ela não pudesse ao menos ter seu filho em paz. Não podiam tirar isso dela. Não de novo.
Ela saltou do carro rapidamente, ao estacionarem na garagem de casa. Ignorou os chamados de Joe, apenas subiu para o quarto, fechando a porta antes mesmo que o marido tivesse subido ao segundo andar. Ela queria ficar sozinha. Em algum lugar, no fundo de sua mente, sabia que não deveria. Sabia que estava cometendo os mesmos erros duas vezes.
Ora, se podem errar tirando-lhe sua felicidade duas vezes, ela também tinha direito de errar novamente, não é? Ela não queria saber se seus pensamentos tinham lógica ou não, apenas queria se enterrar no meio dos lençóis e chorar até morrer. Um pensamento muito positivo, é claro.
Ela queria seu bebê de volta no seu útero. Queria seu sorriso se volta no seu rosto. Queria sua esperança de volta.
Mas ela não podia ter tudo o que queria. Na verdade, não podia ter nada do que queria, aparentemente.
Ela só tinha um pedido na vida, tudo o que ela queria era ter uma família, tudo o que ela queria era ser mãe. Por que, por mais que tentasse, não conseguia? Por que continuava falhando e falhando, sem nenhum motivo aparentemente? Deus realmente não gostava dela, pensou. Ou isso, ou o universo estava realmente tentando lhe ensinar uma lição: ela não nascera para aquilo, era melhor desistir.
De fato, ela estava cansada de continuar tentando. Estava cansada de tentar ser feliz. Ela estava cansada de achar que tinha conseguido, para depois descobrir que se enganara. Estava cansada de ver todos seus sonhos escaparem por suas mãos. Era melhor não ter sonho nenhum, do que ter e perdê-lo.
Com as perguntas rolavam por sua mente e as lágrimas por sua face, Demi acabou adormecendo, mesmo ainda estando de manhã.

Ao chegar no quarto, Joe encontrou Demi dormindo quase profundamente, sem querer atrapalhá-la, ele saiu rapidamente de lá. Acabou indo para o escritório, que costumava ser o quarto de Stella, já que o antigo tinha sido transformado em um quarto para o futuro-não-mais-existente bebê. Era irônico como eles acabavam voltando para o mesmo cômodo, de um modo ou de outro.
Ele não iria para cama e choraria até dormir como Demi fizera. Não podia se dar o luxo de fazer isso. Por mais que o medo estivesse o consumindo, por mais que toda a tristeza que tinha deixado escondida nos últimos tempos estivesse voltando com toda intensidade.
Não aguentaria passar por tudo aquilo de novo. Não conseguiria ver Demetria no mesmo estado de três anos antes. Tudo estava indo tão bem, não podia voltar tudo tão de repente. Mas ele tinha o pressentimento que voltaria. Sabia disso desde que a médica anunciara que eles tinham perdido o bebê e o olhar de Demi se perdera. Era uma questão de tempo, pouco tempo, até que ela se perdesse completamente.
E até que ele recorresse a bebida novamente.
Logo, viraria um ciclo. Talvez em alguns anos ele e Demi voltassem novamente. Talvez estivessem destinados a repetir os mesmos erros todas as vezes. Até aprenderem que não existe a possibilidade de eles serem felizes. E nunca existirá.
Ele estava sendo ridículo. Sabia que estava ao mesmo tempo em que pensava, mas não conseguia evitar. Todos os seus piores pesadelos haviam se tornado verdade, o mais improvável tinha acontecido. Eles haviam perdido mais um filho.
Mesmo que ainda fosse um feto, ainda contava. Era uma vida, afinal.
Não só isso, era um símbolo. Era um símbolo da felicidade que ele e Demi tinham conseguido resgatar, da esperança que ainda restava, da certeza de que tudo ficaria bem no final. E esse símbolo estava morto agora.
E o que ele poderia fazer? Resgatá-lo estava muito a cima de sua capacidade. A cima da capacidade de qualquer humano deste século, pelo menos.
Ele poderia não desistir. Ele poderia tentar resistir a tendência de voltar ao passado. Ele poderia ajudar Demi e os dois poderiam continuar juntos dessa vez. E podiam continuar tentando acertar.
Mas isso seria tão difícil. Daria tanto trabalho. Valeria mesmo à pena? E se acontecesse mais alguma coisa. Até onde a força de vontade vai? Até lugar nenhum, Joe pensou, ao continuar no mesmo lugar e resolver simplesmente deixar que o tempo resolvesse tudo. Ou que não resolvesse nada. Ele estava cansado demais para se importar.

Demetria não encontrou Joe no quarto quando acordou. Descobriu que havia cochilado por pouco mais de meia hora e o sono não fora o suficiente para apagar sua memória. Ela nem ao menos havia sonhado, nem ao menos conseguia fingir que tudo não passava de um engano ou de uma ilusão. Nunca era um engano, não com ela.
Ela desceu para o primeiro andar, sem se dar o trabalho de procurar Joseph em um dos outros cômodos. Foi até a cozinha, onde tomou um copo de água e uma aspirina. Pensou em tomar um antidepressivo, mas sua medicação já havia acabado há um tempo. Talvez fosse melhor ligar para sua psicóloga. Talvez fosse melhor ligar para qualquer pessoa. Ou ao menos conversar com Joseph. Talvez ele estivesse preocupado. Talvez ele também estivesse mal.
Não conseguiu recuperar forças suficientes para subir novamente, entretanto. Sentou-se em uma das cadeiras da cozinha, sentindo-se completamente vazia. Nenhum pensamento passava por sua mente. Nada além de uma vasta escuridão dentro de seu cérebro.
Algumas lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto e Demi já não sabia mais pelo o que chorava. Tudo estava tão errado que ela não mais sabia o que era certo.
Só sabia que queria seus bebês de volta.
Só sabia que queria ficar sozinha.
Ela ouviu os passos de alguém descendo as escadas. Mesmo que não totalmente consciente disto, percebeu que aquele seria o momento que decidiria como reagiria a toda essa situação. De acordo do modo como reagiaria a presença de Joe, ela sabia se realmente tinha voltado ao estado pós-morte de Stella.
Joseph entrou na cozinha e não disse nada, apenas acenou com a cabeça para Demi que continuou imóvel. Ele abriu a geladeira, como se procurasse por algo e fechou irritado logo em seguida. Ele então se virou para Demi, devagar, como se não tivesse certeza como deveria reagir perto dela. Ele se aproximou da esposa, que automaticamente deu um passo para trás.
- Demi... – Ele comentou, portando possivelmente um dos olhares mais tristes que Demi havia visto dos últimos anos – Não se afaste de mim, por favor.
Ela não respondeu nada, apenas continuou o encarando, tentando segurar as lágrimas que começavam a se formar em seus olhos. Quando Joe fez menção de chegar mais perto, Demetria se afastou mais ainda, surpreendendo até a si mesma com o movimento.
- Eu sinto muito – Ela disse, antes de sair rapidamente da cozinha e subir para o quarto.
Ela teve sua resposta. Ele também. Tudo tinha voltado a ser como antes.

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Esta chegando na reta final meninas!! =D

domingo, 18 de março de 2012

Capítulo Quatorze
Parte 2



Sim, ela teve. Mas Stella não contava realmente, não é? Não mais. Naquele momento, Demetria entendeu que Joe não tinha pensando no assunto e provavelmente não iria gostar da ideia. Mas não tinha mais jeito de voltar atrás agora, ela poderia encerrar o assunto por ali, mas ela conhecia Joseph e sabia que ele traria de volta mais tarde.
- Eu sei, mas ultimamente eu estive pensando e... – Ela parou e Joe fez sinal para que ela continuasse. – Você sabe que eu sempre quis ter filhos. Agora que nós estamos juntos de novo, nós podíamos, não sei, tentar novamente.
Joseph não respondeu nada, ainda absorvendo a informação. Demi também não continuou a dizer, com medo do que ela acharia, naquele momento daria tudo para poder ouvir os pensamentos de Joe. Talvez ela devesse ter esperado um pouco mais, ter amadurecido a ideia.
- Há quanto tempo você vem pensando nisso? – Ele disse, finalmente.
- Algum tempo. – Ele respondeu, estranhando a pergunta. – Desde que Oliver nasceu, acho, mas principalmente de um mês para cá, eu acho.
- Por que você não me disse nada? – Ele pareceu mais chateado do que irritado. – Essa é uma decisão importante, Demi, não podemos decidir tão precipitadamente.
- Não é precipitado. Não estou dizendo para termos um bebê amanhã, Joseph, só começarmos a pensar no assunto.
- Eu sei. Mas não acha que é cedo demais?
- Faz quase quatro anos! Quando vai parar de ser cedo, Joseph? Quantos anos você acha que eu ainda tenho para ficar pensando sobre o assunto? Não muitos. – Ela respondeu irritada, não sabia por que estava se estressando, mas estava.
- Podemos pelo menos esperar alguns anos. Nós não estamos prontos para isso.
- Eu estou pronta. Droga, Joe, eu estou pronta para ser mãe há uns dez anos.
- Mas isso não foi o suficiente, não é?
Os dois ficaram calados por algum momento, apenas pensando no que Joe tinha dito. Não, não fora o suficiente. Não importava se eles estavam prontos, se eles queriam aquilo e podiam, no fim não foi o suficiente para manter Stella viva.
- Não foi minha culpa Stella ter morrido. – Ela falou, quebrando o silêncio e encarando Joe com raiva por ele ter trazido Stella para o assunto.
- Eu não disse que foi. Só quero dizer que não importa o que façamos, nós não sabemos o que vai acontecer. Eu não quero passar por isso de novo.
- Por que nós perderíamos outro filho? O que aconteceu foi um acidente, quais são as chances de acontecer de novo? – Ela falou, tentando fazer com que Joseph entendesse. – Nós podemos ter outra chance, Joe. Você não gostaria de poder fazer tudo mais uma vez? Só que dessa vez, ela faria quatro anos, cinco... E continuaria crescendo.
As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Demetria, enquanto ela pensava em tudo que eles não tinham tido e que poderiam ter. Falar em Stella sempre a deixava emocional, não importava quanto tempo tivesse passado.
- Mas nós não podemos voltar no tempo, Demi. Outro bebê não seria Stella.
- Mas seria nosso filho. Pense nisso, Joseph. Não seria Stella, seria outro bebê, mas ainda seríamos nós dois. Você sempre quis ter outros filhos, eu também, por que não?
- Eu não quero mais. – Ele falou, encerrando o assunto e saindo em direção à porta de casa.
- Você vai embora? De novo? – Ela reclamou, limpando as lágrimas do rosto. – Todas as vezes que as coisas complicarem um pouco, você vai simplesmente me deixar sozinha?
- Eu nunca te deixei sozinha. – Ele avisou, um pouco magoado com a referência que ela fez. – Eu só vou sair para pensar um pouco. – E falando isso, saiu de casa, batendo a porta.
Demetria não falou mais nada, apenas deixou que ele fosse embora. Ótimo, agora estava estressada. Era a primeira briga de verdade que eles tinham desde que voltaram a morar juntos. É claro que já tinham brigado várias vezes antes, mas nada muito sério.
Demetria imediatamente se arrependeu do que tinha dito para Joe. Não deveria ter falado de ele ir embora, não depois de assegurá-lo que tinha o perdoado e sabendo como ele se sentia culpado. Não sabia realmente porque tinha dito aquilo, odiava não conseguir pensar quando estava irritada. Esperava que Joseph voltasse para casa logo e eles pudessem resolver tudo.
Não devia ter ficado tão na defensiva, pensou, não era tão importante assim, afinal. Se Joseph queria esperar, ela podia esperar, não podia? Por que sentia essa necessidade tão grande de ter outro filho? Como se precisasse provar que podia ter um filho?
Talvez Joseph estivesse certo. Talvez ela realmente não estivesse preparada para ter outro filho. E como poderia estar? Verdade seja dita, a morte de Stella ainda a assombrava. Como poderia colocar todo esse peso em cima de outra criança? Ela poderia correr o risco de tentar substituir a perda de um filho com o outro. De fazer comparações. E isso a faria se sentir uma péssima mãe.
Por outro lado, talvez esse sentimento nunca passasse. E se ela continuasse pensando assim, iria acabar nunca tendo outro filho. E sempre pensaria “E se?”. Também não queria que isso acontecesse.
Cansada de se torturar com seus próprios pensamentos, Demi resolveu tomar um banho para ver se conseguia relaxar um pouco. Estava trabalhando demais, isso estava a estressando. Não devia ter descontado em Joe. Ele também não estava tendo uma semana muito fácil, ela provavelmente deveria ter esperado um pouco mais.
Mas também estava com aquilo preso e precisava contar. A culpa não era dela se Joseph reagira tão mal a sua proposta. Não era tão absurdo assim ter um bebê. Não era possível que em quase um ano que eles estavam juntos de novo, ele nunca tivesse pensado nessa possibilidade. Mas ele estava certo, esse era um passo importante, eles deveriam esperar para decidir juntos.
Ela saiu do banho, notando que Joseph ainda não havia voltado. Aonde será que ele havia ido? Será que ela deveria começar a ficar preocupada? Procurou-o pelo resto da casa, confirmando que ele realmente não estava ali. Ligou para o celular dele, mas Joe não atendeu. Demi reparou que começava a chuviscar lá fora, era só o que faltava. Esperava que Joseph pelo menos tivesse levado um guarda-chuva.
Ainda estava de tarde, provavelmente Joseph só tinha ido encontrar com Nick ou Liam. Lembrou-se de que tinha muito trabalho a fazer ainda e, enquanto ele não aparecia, era melhor ela adiantar alguma coisa.
Mais de uma hora depois, Demi tentava continuar trabalhando, mas não conseguia se concentrar. Joseph ainda não tinha voltado. Já estava há duas horas fora e já estava quase de noite. Demetria tentou ligar para seu celular de novo, mas novamente ninguém atendeu. Preocupada, ela ligou para Nick, Liam e Kevin, mas nenhum deles tinha visto Joe desde que ele voltara para casa, mais cedo.
Demetria pensou em sair para procurá-lo, mas não fazia a mínima ideia de onde ele poderia estar. Ela olhou pela janela e notou que ele havia levado o carro, o que basicamente significava que ele poderia ter ido para qualquer lugar. Tentou ligar mais uma vez para Joseph. A chuva aumentou.
Demi pensou em um lugar que Joseph poderia estar. Tinha uma grande chance que ele não estivesse, mas ela esperava que sim. Deixou um bilhete para o caso de Joseph voltar para casa antes dela, então pegou um guarda-chuva e chamou um táxi.
A chuva tinha diminuído um pouco quando Demetria finalmente avistou o cemitério. Tinham apenas alguns carros estacionados e, felizmente, ela conseguiu destacar o carro de Joe entre eles. Ela saltou do carro e correu até a lápide de Stella, onde tinha certeza que o encontraria. De longe, ela o viu parado, em meio aos pingos de chuva. Revirou os olhos, pensando que ele provavelmente ficaria resfriado depois.
Ela andou calmamente até ele, parando ao seu lado e protegendo-o da chuva com seu guarda-chuva. Ele pareceu não perceber sua presença por alguns segundos e então virou-se assustado, como se tivesse sido encontrado fazendo alguma coisa errada.
- Demi? – Ele perguntou, tendo que falar alto para que ela o ouvisse.
- Você está bem? – Joe apenas assentiu, ela não podia ver suas lágrimas misturadas com as gotas de chuva.
Joseph pegou a mão de Demi e andou até o carro, sem dizer mais nenhuma palavra. Ele sabia que ela estava irritada por ele ter sumido, mas estava feliz que ele estiva bem. Ele sabia que deveria ter atendido seus telefonemas, mas precisava realmente de um tempo para pensar. Ele tinha sim pensado em ter outros filhos, algumas raras vezes, sempre descartara essa oportunidade, porém. Joseph tinha conseguido, depois de muito esforço, perdoar-se um pouco pela morte da filha; mas continuava ali, apesar de tudo, o medo, as inseguranças. Se eles tivessem outro bebê e acontecesse alguma coisa? Como ele conseguiria se perdoar dessa vez? E se, afinal, tivesse realmente sido culpa dele?
Demi estava certa, ele queria ter outros filhos, sempre quisera. Mas tinha tanto medo. E se ele voltasse a beber? E se, e se. Ele sabia que se continuasse a questionar tudo o que poderia acontecer, ele acabaria não vivendo.
E se eles tivessem um filho e desse tudo certo? Eles estavam tão felizes, tudo estava tão perfeito entre ele e Demi, o que poderia dar errado? Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, era o que sempre diziam. Eles já haviam sofrido demais nessa vida, será que ele não podia simplesmente dar uma chance a si mesmo de ser feliz? Mais do que isso, não podia dar uma chance à Demi?
Ele havia abandonado-a uma vez e prometera a si mesmo que nunca faria isso novamente. Eles estavam juntos e se Demi queria ter outro filho, se ela estava pronta para embarcar nessa vida novamente, então ele iria com ela.
- Me desculpa. – Demi falou quando eles chegaram ao carro. – Eu não devia ter reagido tão mal. Você está certo, Joe, nós deveríamos esperar.
Joseph arregalou os olhos ao ouvir isso. Depois de todo o drama interno que tinha tido, ela simplesmente aceitava e dizia que eles deveriam esperar? Ela só podia estar brincando! Joseph quase riu; ele deveria ter imaginado que Demetria faria uma coisa desse tipo.
- Engraçado, porque eu ia dizer que achava que nós devíamos tentar. – Ele comentou.
Demetria não respondeu nada, parecendo arrependida ter falado antes. Apenas o encarou, como se perguntasse se ele estava falando a verdade mesmo.
- Você tem certeza?
- Tenho. Vai dar tudo certo dessa vez, Demi, nós vamos ter outro bebê e vai ser a melhor fase da nossa vida. – Ele falou com tanta certeza, que Demetria ficou até surpresa.
Apenas sorriu para ele, tentando deixar de lado suas próprias inseguranças. Tudo ia dar certo dessa vez, Joseph estava certo. Eles estavam tão felizes, por que daria alguma coisa errada? Ela o beijou e Joe dirigiu até a casa novamente.
Ao chegarem, Demetria entrou na casa e Joe ficou para trás, para fazer alguma coisa. Ele apenas pegou um saco plástico, que continha suas compras de algumas horas atrás, e jogou-o na lata de lixo. Hesitou por apenas um segundo. Só ele sabia o quão próximo estivera de beber aquela garrafa, apenas parara por alguns minutos no cemitério para pensar um pouco mais sobre suas próprias decisões e, então, Demetria chegara. Alguns minutos a mais e o que iria para o lixo era sua reabilitação.
Seria a melhor época de suas vidas, ele repetiu para si mesmo, não tinha com o que se preocupar. Estavam prontos.

Dezembro, 2009

Demetria encarava a tira que marcava duas listras sem saber como reagir. Sentiu uma solitária lágrima escorrer pelo seu rosto. Pela primeira vez em muito tempo, chorava de felicidade. Seu teste de gravidez dera positivo! Depois dos últimos três meses sem nenhum sucesso, ela tinha vontade de contar para Deus e o mundo. Ao invés disso, apenas saiu do banheiro, levando o teste consigo e encontrou Joe esperando-a ansiosamente, sentado na cama. Ela apenas sorriu, levantando o resultado.
Joseph entendeu na mesma hora, pulando da cama e abraçando a mulher. Agora era oficial, não tinha mais como negar, eles teriam outro bebê.
É claro que ambos ainda tinham suas inseguranças, mas tinham nove meses para se preparar. Era tempo o suficiente, diziam para si mesmos. Eles pensaram bastante sobre o assunto, pensaram em parar de tentar cada vez que a menstruação de Demetria chegava, mas decidiram que continuariam tentando.
Eles continuariam a construir uma família. E, finalmente, aquela sensação de que falta algo, desapareceria. Pelo menos, era o que esperavam.
O ano estava acabando e eles começariam o próximo completamente renovados. Quatro anos antes, Demetria planejara começar o ano seguinte com uma nova gravidez. Planejara ter um segundo filho e comemorar com Joe e com Stella. Ela pensara em como contaria para Stella, como seria, se levaria a filha para ir à consulta do médico com ela, se Stella opinaria sobre o nome do bebê.
Mas era apenas ela e Joe novamente. Passando por uma gravidez mais uma vez. Jantando para comemorar. De alguma forma, lembrar de tudo isso, fez com que Demi ficasse triste. Ela tinha que deixar esses pensamentos de lado. Eles iriam ter outro filho, ela teria mais responsabilidades como mãe, não podia deixar que simples memórias a abalassem tanto.
Percebendo a mudança na feição de Demi, Joseph a apertou em um abraço. Ele sabia que, com um novo bebê, a lembrança de Stella ficaria cada vez mais forte, cada vez que repetissem alguma coisa que já tivessem feito com a filha, eles se lembrariam dela. E eles teriam que ser fortes para passar por isso.
- Nós vamos conseguir. Nós vamos mesmo fazer isso. – Ele falou, beijando o topo da cabeça de Demetria. – Tudo vai se ajeitar agora.

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Respondendo:
 
NINA: Awwnn linda obrigada por perguntar!! Ele esta otimo, graças a Deus. Já não esta mais ficando internado e esta fazendo as quimioterapia na clinica e volta pra casa no mesmo dia!! =D Só um acompanhamento mesmo. Estamos seguindo nossa vida "normalmente" XD
 
Demetria devonne lovato: Esta desculpada fofa. sem crise. Só espero que volte sempr!! XD
 
Dani: Vão sim!! suahsau Ainda tem umas emoçoes finais por vir!! ;) 
 
Lala: Sem problemas, tbm estou sem muito tempo pra responder as vcs mas de vez em quando tento. Espero que estejam gostando. 
 
 
MENINAS TENTEM TRAZR NOVAS SEGUIDORAS PARA CÁ. JA FAZ ALGUM TEMPO QUE NÃO APARECE GENTI NOVA!! =D DESDE JÁ AGRADEÇO. ;)

quinta-feira, 15 de março de 2012

Capítulo Quatorze

Capítulo Quatorze

Agosto, 2009

Quando Demi chegou ao restaurante, percebeu que Catherine e Selena já estavam sentadas, comendo alguma entrada. Cath, que tinha acabado de voltar de uma longa viagem com Kevin, chamou a irmã e a amiga para saírem para almoçar. Apesar de estar tendo uma semana super agitada, preparando um evento em cima da hora, Demetria não poderia negar ver a irmã, que estava sentindo tanta falta nos últimos meses.
Era engraçado o quanto Selena e Catherine tinham ficado amigas recentemente, afinal, Sel já era amiga de Demi há muito mais tempo. Mas até que fazia sentido, agora que todas estavam casadas com os integrantes da mesma banda.
Demetria observou que Catherine brincava com Oliver, que já estava com mais de cinco meses agora, e ria sem parar no colo de Selena. Sempre que encontrava Ollie - o que acontecia frequentemente - alguma coisa despertava dentro de Demetria, um sentimento que ela preferia que tivesse ficado guardado.
- Hey, Demi, finalmente você chegou. – Cath abriu um sorriso, cumprimentando a irmã e puxando-a para que ela se sentasse.
Demetria riu, observando a expressão de felicidade no rosto de Catherine. O que umas boas férias não faziam. Demi pensou, só Deus sabia como ela estava precisando de umas. Quanto tempo fazia desde que tirara um tempo só para si mesma? Mais do que um ano, sem dúvida.
- As férias te fizeram bem. – Demetria comentou, compartilhando parte de seus pensamentos.
- Sim, bastante. – Ela abriu mais um sorriso e mordeu o lábio, como se fosse contar alguma coisa, mas não soubesse exatamente se devia. Demetria apenas ergueu as sobrancelhas, observando a reação da irmã. – Eu sei que vocês devem estar se perguntando porque eu pedi que se encontrassem aqui comigo tão rapidamente. – Catherine começou e Selena franziu a testa.
- Na verdade, não. – Selena disse. – Não teve nada de estranho nesse almoço, até agora, Cath.
- Achei que você só estivesse com saudade da gente ou algo assim. – Completou Demi, dando de ombros.
Catherine revirou os olhos, aborrecida porque não a deixaram terminar de falar e apenas as encarou, deixando claro que ela queria dizer algo.
- Eu estou grávida! – Ela anunciou, abrindo provavelmente o maior sorriso que já dera na vida.
- Ah, isso é ótimo, Cath! – Demi falou, abraçando a irmã. – Awn, finalmente vou ter um sobrinho para cuidar.
O resto do almoço inteiro foi apenas uma celebração da gravidez. Catherine contou que eles já estavam pensando em ter um bebê por algum tempo e, durante essa última viagem, ela finalmente conseguira. Catherine queria contar logo para elas, pois tinha certeza que Kevin contaria para os outros imediatamente e Cath queria ela mesma contar.
Após se despedir das duas, Demetria foi direto para sua casa, aproveitando que podia resolver todo o resto do seu trabalho por telefone. Precisava de um tempo para se acalmar, enquanto os pensamentos se espalhavam em sua mente. Aproveitaria que Joseph provavelmente não estaria em casa, para organizar o que estava sentindo.
E daí que sua irmã estava grávida? Ela deveria estar feliz, não é? Mas é claro que estava feliz, Demi pensou. Não era que não estivesse, estava muito feliz por Catherine, só estava triste por ela mesma. Como sempre. Catherine, que era tantos anos mais nova que ela, já estava casada e tendo filhos, e isso a fazia se sentir velha. O que a levava a pensar que talvez não tivesse mais tantos anos de fertilidade assim.
Ela, obviamente, estava exagerando. Ainda tinha 32 anos, tinha quase uns dez anos pela frente. Mas ela sabia que quanto mais tempo passava, mais difícil era para conseguir engravidar. Ela sabia o quão rápido o tempo podia passar e, em um piscar de olhos, ela já estaria com mais de quarenta anos e já teria passado a hora.
Também era estranho imaginar Cath com filhos. Demetria sempre fora a que queria ter uma família. Ter filhos. E era a única que não estava conseguindo. Aquele pensamento vinha sendo muito recorrente nos últimos tempos, Demetria percebeu. Se há tanto tempo andava pensando em ter outros filhos, por que simplesmente não conseguia admitir isso para ninguém que não fosse ela mesma? Não conseguia dizer nem mesmo para sua psicóloga. Não era um absurdo tão grande, afinal. Por que, então, sentia-se tão culpada?
Ela queria aquilo. Ela queria mais do que qualquer coisa no momento. Mais do que isso, ela precisava. Agora, mais do que nunca, ela sentia que estava na hora.
Talvez só estivesse pensando tudo isso porque estava com inveja de sua irmã, mas não se importava. Mesmo que estivesse sendo um pouco influenciada por Catherine e por Selena, esse sentimento teria aparecido em algum momento, de qualquer forma.
- O que você está fazendo? – Joe perguntou.
Demetria sobressaltou assustada, estava tão perdida em seus pensamentos que nem ouvira Joe chegar em casa. Ela apenas sorriu para o marido, afastando-se da janela que estava, encarando fixamente e cumprimentando-o.
Questionou-se se deveria falar sobre o que estava pensando. Não sabia como Joseph iria reagir, ou pior do que isso, não fazia a mínima ideia. Nunca haviam nem ao menos comentado sobre a ideia de ter outro filho. Pelo o que Demi sabia, Joseph podia nunca ter pensado sobre o assunto ou ser totalmente contra. E as coisas andavam tão boas entre eles, ela não queria estragar tudo.
- Você ouviu o que eu disse? – Ele questionou, erguendo as sobrancelhas e despertando a atenção de Demetria. – Demi?
- Ah, desculpa. O que houve? – Ela tentou voltar sua atenção ao marido.
- Kevin e Cath vão ter um filho! – Ele anunciou animado. – O quão legal é isso? Parece que todos estão tendo filhos. Talvez até Liam daqui a pouco. – Ele parou um segundo para pensar no assunto. – Acho que ele está saindo com Jenny de novo. De qualquer forma, Kevin e Catherine tendo um bebê, o que acha disso?
- Cath me contou hoje mais cedo. – Ela falou, ainda meio em outro mundo. – Estou feliz por eles. E por Liam. – Acrescentou. - Eu gosto de Jenny.
Demetria andou em direção à cozinha, pegando um copo de água, como se precisasse se ocupar com alguma coisa para não parecer tão fora de sintonia. O que, claro, não adiantou muito, já que Joe continuava a olhando com o cenho franzido, tentando entender o que se passava pela mente da mulher.
- Demi, o que houve? – Ele perguntou, seguindo-a, sem saber por que ela estava agindo assim. Quando Demetria o olhou sem entender, ele completou. – Você está estranha. E não está agindo como se estivesse feliz. Você e Catherine brigaram ou algo assim?
- Não, é claro que não. É só que... Eu sou a irmã mais velha, eu deveria ter filhos antes dela. – Ela falou, sem saber como trazer o assunto à tona.
- Mas você teve. – Ele disse, referindo-se a Stella e não entendendo o que ela queria dizer.
Demetria balançou a cabeça negando.

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quarta-feira, 14 de março de 2012

Capítulo Treze 
 Parte 2

Dezembro, 2008

Demetria parou em frente ao quarto que fora de Stella. O quarto estava completamente vazio agora, mais do que antes, mas Demi preferia assim. As paredes haviam sido pintadas de creme e a cama, armário e estante haviam sido levados embora. Como a tinta ainda estava fresca, não tinha nenhum móvel. Ela e Joseph pretendiam fazer um escritório ali. Um lugar para que os dois pudessem trabalhar, mexer no computador ou ler um livro em paz, um lugar que não lembrasse, de modo algum, Stella.
Demi só tinha se mudado há algumas semanas para casa e ainda estava se acostumando. Alguns de seus móveis continuavam no apartamento antigo e ela ainda estava cancelando o aluguel, mas já não morava lá e se sentia bem com isso.
Ao sair do quarto, fechando a porta para o cheiro de tinta não se espalhar, esbarrou em Joe. Ele estivera parado ali, apenas observando Demi olhar o cômodo. Sentia como se tivesse alguma coisa errada com o quarto. Mas um errado bom, na medida do possível.
- É estranho, não é? – Demetria comentou, trancando a porta e se afastando do quarto. – Transformar o quarto de Stella em um ambiente tão impessoal. – Completou.
Joseph apenas assentiu. Era melhor assim, apesar de estranho. Com o tempo talvez pudessem usar o escritório sem se lembrar do que já havia sido. Pelo menos, era o que ele esperava.
- Vamos. – Chamou, tocando Demi no braço para que ela prestasse atenção e, então, desceu as escadas.
Demetria concordou, olhando para trás uma última vez, apenas para verificar se o quarto continuava do jeito que tinha deixado. Surpreendia-se com sua capacidade de acreditar que um dia iria virar e encontrar tudo diferente. Ou igual, pensou rapidamente, dependendo do ponto de vista.
Passando pelo andar de baixo, Demi parou um pouco para observar a árvore de Natal que ela e Joe tinham montado alguns dias antes. Era uma árvore bonita, cheia de enfeites dos mais variados tipos. Demi se sentiu triste, ao imaginar que ela nem seria utilizada naquele ano, já que eles haviam decidido passar o Natal na casa dos pais de Joseph. Sem Stella ali, entretanto, o Natal seria muito vazio só com eles dois.
Eles viajariam para a casa dos Jonas já naquele final de semana, portanto, naquele dia Joe queria levá-la para sair. Principalmente, lembrou Demi, considerando que naquele dia faria oito anos desde que Joseph a pedira em casamento. Ela ponderou se ele lembrava, provavelmente sim, ele tinha uma ótima memória.
O que só se confirmou quando eles entraram no carro e Joseph dirigiu até a London Eye. Demetria não conseguiu deixar de sorrir, fazia tempo que não ia até lá, estava mesmo pensando ir novamente e não havia nenhum dia melhor para isso, para comemorar.
Oito anos, quem diria que já tinha passado tanto tempo. Quem diria que tinha passado tão pouco tempo. Parecia que uma vida inteira tinha sido vivida nesse intervalo e, entretanto, nada havia mudado. Continuava sendo eles dois. No mesmo dia, no mesmo lugar, com as mesmas sensações.
Não, ela pensou. Os sentimentos continuavam os mesmos, a maior parte, pelo menos, mas as sensações eram diferentes. Eles estavam diferentes, aqueles anos haviam tido muito mais peso do que eles gostariam. Era impossível dizer que continuavam sendo as mesmas pessoas que andaram na roda-gigante exatamente oito anos antes.
- O que estamos fazendo aqui? – Demetria perguntou, deixando com que os pensamentos se transformassem em palavras.
- Eu gosto daqui. – Joseph completou, sorrindo e segurando a mão de Demi. – Me traz boas lembranças.
Porque era verdade, Demi não disse mais nada até estarem dentro da cabine. E até depois, na verdade, porque ficou apenas olhando a vista encantada. Era reconfortante como certos lugares nunca perdem o encanto, não importa quantas vezes você vá, parece sempre que é a primeira vez.
Quando estavam no topo da roda-gigante, Demi olhou para Joe sorrindo, lembrando-se de que fora mais ou menos naquela hora que ele a pedira em casamento. Como se lesse sua mente, Joe falou:
- Demi, preciso de falar uma coisa.
- Você vai me pedir em casamento de novo? – Ela brincou, rindo com a possibilidade.
- Na verdade, quase isso. – Disse, fazendo com que ela franzisse a testa, então tirou um pequeno saquinho do bolso. – Bem, eu não tinha mais a caixa original, mas acho que isso vai servir. – E tirou um anel do saquinho. Não um anel qualquer, ele tirou a aliança de casamento de Demi. – Eu acho que isso pertence a você.
Ela não respondeu. Não conseguiu. Ficou olhando abismada para a pequena aliança que Joe segurava, esperando que ela a pegasse. Imediatamente, segurou sua própria mão, como se duvidasse que sua aliança não estivesse ali. Lembrou-se então que deixara, com lágrimas nos olhos, sua aliança em casa, alguns meses antes. Dava graças a Deus por Joe tê-la guardado.
Ainda um pouco em choque, ela tentou pegar o anel, mas antes que pudesse, Joe pegou sua mão e colocou a aliança de volta no dedo certo, repetindo o mesmo gesto que fizera em seu casamento. Sem encontrar palavras, Demetria apenas puxou Joe para perto e o beijou.

Março, 2009
Demetria suspirou ao entrar no hospital. Apesar de ser um hospital diferente, em uma cidade diferente, seu pensamento imediatamente saltou para a noite em que vira os médicos tentarem ressuscitar Stella. A verdade era que não tinha entrado em um hospital nenhuma vez naqueles últimos anos. Tinha ido a médicos, é claro, mas não em um hospital de fato. Era estranho como todos eles se pareciam.
Dessa vez, porém, ela sabia que sua visita não traria lágrimas. O filho de Selena havia nascido no dia anterior e ela estava indo visitá-lo pela primeira vez. Joe já estava lá com os meninos, todos estavam celebrando a chegada de um menino à família. Eles tinham ficado animados com o nascimento de Elle e de Stella também, mas, no fundo, todos esperavam por um menino.
- Tia Demi! – Elle a chamou do final do corredor e veio correndo em sua direção, largando a mão do pai. – Você veio conhecer o Ollie? – Ela fez uma pequena pausa e continuou. – Ele é tão pequenininho! Assim, olha. – Ela afastou as mãos, deixando um pequeno espaço, provavelmente muito menor do que o irmão era. – Mas é muito fofo. Mamãe me deixou segurá-lo ontem! Eu mal posso esperar para poder brincar com ele. – Completou e então saiu correndo em direção ao quarto novamente.
- Ela está muito animada com a ideia de ter um irmão. – Nick avisou, rindo e observando a filha. – Mas tenho quase certeza que ela acha que ele é um brinquedo, ou algo assim.
Demetria observou que Nick, apesar de um pouco cansado, parecia muito feliz. Parabenizou-o pelo novo bebê e foi então encontrar Selena. O quarto, apesar de grande para os padrões de um hospital, estava superlotado. Além de Elle e Nick, estavam também Joe, Dougie, Kevin, Catherine e os pais de Selena.
Selena parecia meio incomodada com a quantidade de pessoas ali e, provavelmente, queria que todos fossem embora para que ela pudesse dormir, mas sorriu para Demi quando ela chegou. Demetria se aproximou, entregando-a o presente que tinha comprado para a criança.
- Quer segurar o Oliver? – Selena perguntou, procurando pelo filho, que estava sendo repassado de braço em braço. Encontrou-o com Catherine, que olhava o bebê com encanto. – Acho que alguém está pensando em ter filhos. – Comentou.
Demetria olhou para a irmã e concordou com a amiga. Pensou em como seria legal ter um sobrinho, principalmente agora que estava voltando a gostar de crianças e aprendendo a lidar com elas.
Aproximou-se da irmã, pegando o bebê no colo. Enquanto segurava Oliver no colo, lembrou-se de como era Stella. Lembrou-se, em seguida, dos meses que sucederam sua morte, em que Demi costumava ir ao seu quarto e ficar na cadeira de balanço. Perguntou-se por um momento se um dia estaria preparada para ter outros filhos, se um dia conseguiria superar.
Ela queria ter outros bebês. Esse era seu sonho, afinal, ser mãe. Mas não conseguia deixar a memória de Stella de lado para isso. Não queria que vissem seu filho como um substituto, não queria que ela mesma acabasse tratando o filho assim. Olhou para Joe, que estava do outro lado do quarto conversando com Kevin, e imaginou se ele também pensava sobre ter filhos novamente.
Ainda não era a hora certa para falar sobre isso. Mas teria realmente uma hora certa?
Demi se perguntava se não seria tarde demais quando ela decidisse.

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terça-feira, 13 de março de 2012

Capítulo Treze

Capítulo Treze

Novembro, 2008

- Você está bem? – Demetria perguntou, observando que Joe não falara nada desde que se afastaram no cemitério.
Eles estavam dentro do carro agora e, apesar de Joseph ter colocado a chave na ignição, não tinha ligado o veículo. Quando ele apenas assentiu em resposta, Demetria se aproximou e o abraçou, precisavam estar juntos nesse momentos. Por algum tempo, eles apenas ficaram abraçados um ao outro, quando Joe começou a chorar, Demetria apenas o abraçou mais forte.
- Deixa que eu dirijo. – Ela falou, mas Joe negou com a cabeça, limpou as lágrimas e deu partida no carro. – Vamos para casa.
Os dois ficaram em silêncio pelo caminho, também não ligaram o rádio. Quando paravam em um sinal, Demi olhava de soslaio para ele, apenas para verificar como estava dirigindo. Sabia que não precisava dizer nada, estar ali ao seu lado era o suficiente. Ou, pelo menos, ela esperava. Não sabia o que tinha se passado quando Joseph ficara sozinho no cemitério. E talvez não quisesse saber. Mesmo compartilhando a dor, tinham coisas que eram pessoais demais e deveriam ser enfrentadas sozinhos, ela entendia isso.
Joe parou em frente a sua casa. Raramente eles utilizavam a casa. Demi não se sentia à vontade indo até lá; na verdade, não tinha muita coragem de voltar, todas às vezes que entrara ficara por poucos minutos, até convencer Joe a irem para seu apartamento. Agora, entretanto, ele nem ao menos pensou que ela poderia estar se referindo ao apartamento, aquela era a casa deles, afinal.
Demi não disse nada, apenas saiu do carro, entrando na casa acompanhada de Joseph. Sentiu seu coração dar um pulo ao pisar na sala, como acontecia toda a vez que entrava no lar. Ela ficou parada no meio do cômodo por alguns segundos, Joe colocou a mão em suas costas, como se a incentivasse a andar. Demetria, porém, não se moveu, olhou para as escadas, observando as portas que davam para os quartos.
Pegou a mão de Joe, apertando-a, e subiu as escadas, sentindo-se um pouco nervosa e, por causa disso, um pouco estúpida. Ao chegar lá em cima, nada pareceu diferente, sorriu para Joe, como se dissesse que estava tudo bem. A porta do quarto de Stella estava fechada e, Demi imaginou, deveria estar assim há um bom tempo. Ela passou direto, indo em direção ao seu antigo quarto.
Não se surpreendeu ao ver que nada tinha mudado desde a última vez que estivera lá, quando tinha deixado sua aliança na mesa de cabeceira. Notou, porém, que obviamente o anel não estava mais ali. Perguntou-se se Joe havia a guardado ou vendido. Achou pouco provável que ele fosse se desfazer de algo do tipo, deveria estar em algum lugar seguro.
Ela se sentou na cama, parando para respirar e observar. Não tinha tido tempo para averiguar o quarto quando viera com Joe, estava ocupada cuidando dele. Tudo continuava exatamente igual. Provavelmente, se abrisse o armário encontraria as gavetas onde guardava suas roupas vazias e veria que Joe continuava a guardar as roupas no mesmo espaço que sempre guardou quando eram casados.
- Como você está? – Ela perguntou, puxando-o para se sentar ao seu lado.
- Estou bem, eu acho. – Sua voz estava um pouco baixa e rouca, por causa do choro. – E você?
- Também. – Melhor do que nos outros anos, acrescentou mentalmente.
Eles não disseram mais nada. Os dois queriam falar alguma coisa, tinham várias palavras guardadas há três anos, mas não sabiam como pôr para fora. O que se dizia em um momento como esses? Ela voltou a pensar, como sempre pensava. Era a primeira vez que passava aquele dia com alguém, em quatro anos.
No dia em que Stella morrera, ela ficara sozinha. Em 2006, apesar de ter estado com Jim, ela, no fundo, estava sozinha, compartilhara com ele sua história, mas não sua dor. No ano anterior, optara pela solidão também. Agora, ela precisava estar com Joe e não sabia como. Não sabia como estar verdadeiramente com ele e não apenas ao seu lado.
- Você não mudou muita coisa na casa. – Ela comentou, por fim. Diria, na verdade, que ele não mudou nada, mas resolveu deixar quieto. Joe apenas assentiu, sabendo que não fizera mudança alguma, literalmente, apenas limpava e botava tudo no lugar novamente. – Isso é estranho.
- Por quê? – Ele franziu a testa, não era estranho, era normal para ele. Não muito saudável, mas normal. – Está bom do jeito que está.
- É, mas a impressão que dá é que voltamos ao tempo. – Demi falou, enquanto observava o quarto e percebia que era realmente verdade o que dizia. – Faz parecer que tudo continua igual.
Ela não precisou colocar em palavras para Joe saber o que ela queria dizer: parecia quase que Stella ainda estava viva. Dava a sensação de que, quando saíssem do quarto, encontrariam Stella rondando a casa. Esse era o objetivo, ele pensou consigo mesmo.
- Isso é errado, você sabe. – Ela completou. – Você precisa deixá-la ir, Joseph.
- Não sei do que você está falando. – Ele tentou acabar com o assunto, levantando-se da cama e andando pelo quarto; passou a mão pelo cabelo, sentindo o nervosismo de quem estava fazendo algo errado. – Eu não paro muito em casa, com os shows e tudo mais. Não tenho tempo para ficar rearrumando os objetos e mudando a decoração. É sem sentido, tudo está ótimo do jeito que está.
Demetria o olhou, com pena. Não somente com pena de Joe, mas um pouco com pena dela mesma, pois sabia que aquela já havia sido ela uma vez. A diferença era que Joe escondia muito melhor, poucas pessoas conseguiam ver que ele precisava de ajuda. Ao contrário dela, que deixava claro para todos o quanto ela estava sofrendo, o quanto ela rejeitava a morte da filha.
Joe não rejeitava a morte de Stella, ela sabia. Apenas não conseguia deixar para trás. E Demi entendia isso, entendia completamente. Ela tinha tido ajuda profissional e talvez só por isso tivesse conseguido superar. Não sabia se somente sua ajuda seria o suficiente para fazer com que Joe superasse também.
- Isso é mentira, Joe. – Ela respondeu; sua voz calma e o tom de censura fez Joseph estremecer. – Mudar ajuda a aceitar que as coisas mudaram. Você mudou, a casa precisa mudar também. – Ela completou. – Fica esse clima sombrio toda a vez, é como se algo nos impedisse de continuar com a vida.
- Mas eu estou continuando com a vida, eu estou. – Ele murmurou, tão baixo que Demi quase não pôde ouvir. – Não é isso que eu venho fazendo há três anos? Levando a vida. Quando eu vou parar de continuá-la e simplesmente viver?
Sentiu a irritação borbulhar dentro de si. Tudo o que ele vinha fazendo era continuar com a vida, ele já estava fazendo isso, por que todos continuavam insistindo no assunto. então? Por que Demi estava falando isso? Logo ela, dentre todas pessoas. Fora Demetria, afinal, quem ficara chorando durante meses. Fora ela quem entrara em depressão e precisara tomar remédios para lidar com a dor. Por que, então, era ele quem estava pior agora? Por que era ele quem não conseguia mudar?
- É você quem está dizendo que não está vivendo. – Demetria falou, dando de ombros. – Você tem controle sobre a sua vida, Joseph. Se está irritado com a situação, mude-a.
Joe não soube responder aquilo. Não queria magoar Demetria com um comentário rude, sabia que ela estava apenas tentando ajudar. Não estava conseguindo. “Mude-a”, como se fosse simples assim. Ela chegava ali e jogava tudo aquilo em cima dele, toda a verdade sobre seus sentimentos que ele vinha tentando esconder, e agora falava isso. Irritado, ele saiu do quarto e entrou no banheiro. Tomaria um banho para se acalmar e, quando saísse, era melhor Demi ter encontrado um assunto melhor.

Demetria não falou nada quando Joe simplesmente saiu para tomar banho, ele precisava de um tempo para absorver as informações. E ela também.
Talvez não devesse ter dito nada daquilo, falando como se entendesse alguma coisa. Talvez Joe realmente não tivesse tido tempo de rearrumar a casa ou simplesmente não quisesse, só porque para ela aquilo significava uma coisa, para ele podia ser diferente. Ela estava passando dos limites. Aquele deveria ter sido um dia para eles ficarem juntos e, veja só, ela conseguira machucar Joe e eles estavam separados agora.
Sentiu as lágrimas brotando em seus olhos e dessa vez não sabia por que exatamente. Era uma mistura de raiva, irritação, tristeza e arrependimento. Quis socar um travesseiro, mas se sentiu estúpida apenas por ter esse pensamento, então levantou-se da cama e resolveu sair daquele quarto. O problema era aquela casa, pensou para si mesma, trazia muitas energias negativas.
Sem parar para pensar, acabou indo parar no quarto de Stella. Era automático, pensou. Fizera aquele caminho tantas vezes enquanto morara naquela casa, que não sabia mais como desviar. Acusara Joe de não ter mudado a casa, mas ela também não teria feito nada se não tivesse se mudado. Era uma hipócrita, isso sim. Irritada consigo mesma, elas deixou que as lágrimas caíssem por alguns segundos, então limpou seu rosto, determinada a parar de chorar, e ficou apenas observando o quarto vazio.
Como já esperara, Joseph não fizera nenhuma mudança no cômodo. As paredes continuavam da mesma cor, a estante continuava presa na parede e a base da pequena cama continuava ali. Demi imaginou que, se ela não tivesse doado todas as roupas e brinquedos de Stella alguns anos antes, tudo ainda estaria no devido lugar.
Ela quase pulou de susto quando sentiu uma mão no seu ombro, virou-se apenas para confirmar que era Joe. Ele não disse nada, mas ela percebeu que ele estremeceu ao ver seus olhos ainda inchados.
- Me desculpa, Demi. – Ele a abraçou. – Eu não deveria ter saído assim.
- Está tudo bem. Você estava certo, eu não tinha nada que me meter, você sabe o que faz com a sua vida. – Respondeu, com a voz falhando um pouco, tanto por causa do choro quanto pela chateação.
- Não. – Ele falou, determinado. – Eu estava com a cabeça quente, mas agora estou melhor.
Ele havia pensado durante o banho. Sempre conseguia pensar melhor enquanto caía água em sua cabeça. Demetria estava certa, afinal. Ele vinha rejeitando, de certa forma, a vida. Mesmo se recuperando do alcoolismo e se acertando com Demi, ele não conseguira mudar sua casa. E, como dizem, a casa reflete o morador.
- Obrigado. – Falou simplesmente. – Eu vou mudar a casa.
Demi iria começar a falar, mas percebeu que Joe ainda não tinha terminado. Ele olhou para ela e pegou sua mão, como se apenas para confirmar seu agradecimento.
- Mas essa casa também é sua. – Ele completou. – Nós vamos mudar juntos, Demi.
Ela ia responder que não morava mais lá, mas entendeu o que Joseph quis dizer. Ele queria que ela voltasse para lá. Queria que ela voltasse para casa. E ela também queria, percebeu, no fundo, aquele apartamento era apenas temporário porque, por mais que aquela casa a enchesse de lembranças que ela preferia esquecer e a desse arrepios algumas vezes, ainda era seu lar e ela pertencia à ali. Assentiu e se aproximou de Joe para beijá-lo.


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sábado, 10 de março de 2012

Capítulo Doze 
Parte 2

- Hey. – Joe murmurou quando percebeu Demetria se mexendo ao seu lado. – Está acordada?
- Estou agora. – Ela se virou para o lado, dando um selinho em Joe.
Não sorriu, entretanto. Apenas o encarou com o olhar um pouco perdido, encontrando o mesmo semblante no rosto do namorado. Era uma sexta-feira, mas ela não trabalharia naquele dia. Era aniversário de Stella. Ela sabia e Joe também, que significava muito mais do que nos outros anos.
Por mais estranho que parecesse, durante essas semanas em que estiveram juntos, eles não falaram de Stella em momento nenhum. Como se tocar no assunto fosse acabar com tudo o que eles estavam reconstruindo. Naquele dia, porém, eles não tinham como fugir do assunto. Eles precisariam falar dela. Ambos sentiriam essa mesma necessidade.
Sem querer ter essa conversa logo pela manhã, Demi se levantou, indo tomar café da manhã e tomar banho, antes de começar um dia que ela gostaria de evitar. Ela nunca sabia como se sentir nesse dia, o que era para ser feliz acabava sempre se tornando triste. Demetria esperava que dessa vez o dia tivesse um final feliz. Joe se encontrava no mesmo estado, nos últimos três anos, ele usara esse dia para se escrever, ou era o que gostava de fingir para si mesmo. Na realidade, ele se trancava no quarto e bebia sem parar por quase 24 horas seguidas, de vez em quando escrevendo coisa ou outra, que ele jogaria no lixo no dia seguinte ou quando ficasse sóbrio.
Naquele ano, ele não teria a bebida para confortá-lo. Ele teria Demi. É, estava evoluindo.
Joe saiu da cama alguns minutos depois, sentando-se na frente de Demetria na mesa da cozinha. Eles ficaram apenas olhando um ao outro, sem tocar na comida ou falar nada. Não precisavam trocar nenhuma palavra, sabiam o que o outro estava sentindo.
- Você quer visitá-la? – Joseph perguntou, repentinamente, sem saber como começar a conversa. Demi apenas balançou a cabeça em negativa. – É, eu também não.
- Você costuma ir lá? – Ela não precisou dizer aonde.
- Vou quase todo mês. Às vezes, me acorda um pouco, perceber que continua ali, que eu não vou voltar para casa e encontrar vocês duas lá. – Ele falou, meio pensativo, não acrescentou que, às vezes, a realidade vinha tão bruscamente, que ele acabava se acalmando com álcool. Demetria assentiu.
Ela tinha a mesma sensação. E odiava isso. Odiava ser obrigada a se pegar a realidade. Sabia que era o certo, sabia que era o melhor, mas se agarrar a esperanças e ilusões sempre lhe foi tão mais atraente. Por esse motivo, só ia visitar Stella uma vez ao ano, no dia de seu aniversário de morte. Ou quando sentia uma necessidade de ir até lá, o que acontecia cada vez com menos frequência.
O assunto encerrou por ali, eles começaram a comer em silêncio. Nenhum dos dois tinha muito o que falar. Lavaram a louça depois, não trocando mais palavras do que o necessário.
Quando acabou de colocar todos os utensílios nos armário, Demi deixou Joe sozinho na cozinha. Foi tomar banho, tentando esfriar a cabeça com um banho quente. Gostava de utilizar o tempo no banho para pensar, naquele momento, entretanto, não conseguia pensar em nada. Seus pensamentos tinham se calado.
Demetria pensou que talvez não devesse ter tirado o dia de folga. Ficar o dia inteiro com Joe, os dois sem saber o que falar, seria estranho. Não havia nada que ela pudesse fazer agora, porém. Ainda um pouco lamentante, ela se secou e saiu do banheiro, suspirando só de pensar no resto do dia.
Encontrou Joe na sala. Ele estava sentado na mesa de jantar, de costas para ela, então Demi não podia ver o que ele estava fazendo, mas imaginava que lia alguma coisa. Ao se aproximar por trás, ela notou que tinha se enganado, ele não estava lendo, mas sim observando uma foto. Demetria sentiu o coração apertar ao olhar com mais atenção na foto. Ela sempre ficara em um porta-retrato, em cima de uma mesinha, onde ficava também a televisão. Como acontece normalmente, depois de um tempo ela se acostumara com o objeto ali e nunca mais prestara atenção nele.
A foto havia sido tirada na manhã de natal de 2004, Stella estava com pouco mais de dois anos e estava rindo loucamente. Vários presentes estavam jogados no chão e Stella segurava uma boneca pelos cabelos, enquanto se jogava em cima da mãe, que sorria abertamente. Se Demetria um dia precisasse definir felicidade, ela mostraria essa foto.
Era um dos retratos mais bonitos que ela já vira, engraçado como tinha se esquecido. Demi sentiu os olhos ficarem marejados de nostalgia. Repousou sua mão no ombro de Joseph, despertando-o de seu mundo. Joseph virou-se imediatamente, em um sobressalto. Ao perceber que era apenas Demi, ele sorriu.
Um sorriso horrivelmente triste, Demetria percebeu. Ela olhou para si mesma na foto e comparou seu próprio riso com o de Joe, era um terrível contraste.
- Você acha que um dia voltaremos a ser tão felizes quanto éramos? – Demi perguntou, quebrando o silêncio e o contato visual, sem saber se era para Joe ou para si mesma.
- Espero que sim. – Respondeu, colocando o porta-retrato de volta no lugar. – Acho que vai sempre parecer que falta uma coisa, mas a felicidade pode se apresentar de diferentes formas. Não estaremos felizes todos os dias, mas nunca estivemos assim.
Era verdade, Demi pensou. O engraçado dos humanos é que quando pensamos em um momento bom que já passou, sempre o idealizamos. Gostamos de pensar que tudo era maravilhoso e que agora tudo está péssimo. Quando as pessoas morrem, ignoramos seus defeitos. Era exatamente isso que Demetria fazia, fingia que tudo costumava ser perfeito. E, de certa forma, era mesmo perfeito, comparado com agora. Mas a felicidade nunca foi completa ou efemeramente eterna.
Joe andou até o sofá da sala, sentando-se. Demetria se sentou ao seu lado, sem tocá-lo. Eles ficaram, por um tempo, apenas olhando para a televisão desligada na frente deles, parecendo dois mortos-vivos. Depois de algum tempo, Joseph procurou a mão de Demi e segurou, apenas como se dissesse que estava ali.
- Você já se perguntou como seria se o acidente não tivesse acontecido? – Ele perguntou, despertando novamente a atenção de Demetria.
- Todo dia. – Ela suspirou. – Stella estaria fazendo seis anos. – Ela faz menção de continuar, mas parou por ali, como se entendesse que Joe já soubesse tudo o que ia dizer.
- Eu sei que isso soa horrível, mas, às vezes, gosto de pensar que ela teria ido de qualquer jeito. Que estava destinado a ser assim. – Ele murmurou e Demi assentiu, entendendo o que ele quis dizer. Se tivesse a certeza que tudo tinha acontecido por um motivo para ser assim, que não tinham como ter feito nada diferente para mudar, seria tão mais reconfortante. – Mas acho que é apenas uma tentativa frustrada de me livrar da culpa.
- Você precisa parar de se culpar. – Ela sussurrou, começando a sentir a tristeza a dominando com esse assunto. – Não há nada que você possa fazer agora, Joe. – Apertou sua mão, segurando-a.
- Será que um dia eu vou conseguir parar de me culpar? – Perguntou , mesmo sendo uma pergunta retórica.Demi o abraçou de lado, sentindo que ele estava precisando disso mais do que ela. – Será que um dia você vai conseguir me perdoar? – Completou, fazendo com que ela se afastasse e olhasse para ele, com a testa franzida.
- Do que você está falando? – Joe sustentou o olhar e Demi soube que ele está falando sério. – Eu já te perdoei, Joe.
- Por tudo?
- Por tudo. Não foi sua culpa. Algumas coisas foram acidentes, outras foram culpa minha. Certo, talvez uma parte tenha realmente sido culpa sua, mas isso não importa. O que passou, passou. Por tanto tempo eu guardei as mágoas, esperando que elas desaparecessem, mas, na verdade, elas nem estavam mais ali, eu apenas pensava que estavam.
Demetria ficou em silêncio e percebeu que um leve semblante de alívio passou pelo rosto de Joseph. Ela o abraçou, sem saber como colocar em palavras o que estava sentindo. Eles ficaram assim por um tempo.
- Eu te amo. – Ela disse, finalmente, beijando-o. – Não importa o que aconteceu, só o que vai acontecer. E eu vou estar aqui com você, sempre.
- Obrigado. – Ele a puxou mais para perto, para um beijo.
Sentia que um peso tinha sido tirado de suas costas, agora que sabia que Demi não o culpava mais. Agora só faltava ele se perdoar.

Novembro, 2008 

Demetria colocou uma rosa solitária na grama, ao lado da que já estava ali. Ficou alguns segundos parada, olhando a lápide, que anunciava que fazia exatamente três anos desde que Stella se fora. Sentiu o coração apertar e os olhos começarem a ficar embaçados, como costumava acontecer toda vez que ia até o cemitério. Antes que a lágrima escorresse, entretanto, ela sentiu alguém apertando sua mão.
Ela olhou para o lado, encontrando Joe olhando na mesma direção que ela. Sentindo seu olhar, ele se virou, abrindo um pequeno sorriso, um sorriso de compaixão, que demonstrava não somente que ele entendia, mas que eles estavam juntos naquilo. Juntos como deveriam ter estado há três anos. Porque, naquele ano, Demetria não chorou mais. Naquele ano, Joseph não se afogou em bebida. Se tivessem tido a coragem de se apoiarem um no outro, de compartilhar a dor, não teria sido tão difícil aceitar a morte da filha.
Joseph abraçou Demetria pelo lado, depositando um beijo no topo de sua cabeça.
- Vamos? – Ela disse, depois de terem ficado algum tempo em silêncio.
- Vai indo, eu vou daqui a pouco.
Demetria assentiu, entendendo que ele precisava de um tempo sozinho com Stella. Assim como ele a deixara sozinha, dois anos antes. Apertou a mão de Joe, deixando-a depois e andando vagarosamente até onde estavam estacionados.
Joe observou Demi se afastando até que não pudesse mais vê-la, virou-se, então, novamente, para a lápide se Stella. Ele já tinha vindo visitá-la milhares de vezes, mas dessa vez era diferente. Dessa vez, toda sua situação física e psicológica era diferente.
- Me desculpe, Stella. – Ele falou simplesmente, colocando sua mão direita em cima da lápide. – Eu realmente sinto muito. – Repetiu. – Você pode me perdoar?
Ele sabia que não obteria resposta. Não estava esperando que o fantasma de Stella aparecesse e o respondesse, ou que aparecesse um sinal divino de repente. Começasse a chover ou ventar e, nada aconteceu, realmente. Ao fazer a pergunta, Joseph questionava a si mesmo e não a Stella. Ele se perdoava? Ele conseguiria se perdoar, quando via a lápide marcando um espaço tão pequeno de vida? Quando via o nome de sua filha estampado ali? Ele conseguiria se perdoar quando as imagens do acidente vinham na sua cabeça? Ele conseguiria se perdoar cada vez que visse Demetria triste por ter se lembrado da filha?
Não achava que conseguiria. Sabia que, no fundo, nunca conseguiria. Mas ele havia superado, ele tinha entendido que não há nada mais que ele possa fazer. Nunca poderia se perdoar, porém, por não ter feito alguma coisa quando pôde.
Não podia se livrar completamente da culpa. Mas, agora, deixava-a ali, naquele cemitério. Enterrava-a junto com Stella, para que toda vez que ele fosse até lá, ele se lembrasse de que, afinal, era por causa dele que ela estava morta. Lembraria cada vez que se lembrasse de Stella, mas podia, ao menos, seguir com sua vida.
Ele deu as costas para a lápide e para a culpa. E foi encontrar Demetria.


Respondendo:


Julia: Oie Julinha(oia a intimidade kkkkk) Pode ficar tranquila que quando der um tempinho a mais eu JURO que dou uma passadinha por la ta??! Bjs fofa. 
=D


Meninas vocês estão gostando mesmo?!?! É que os coment's CAIU bastante!! =/  Por favor falam se estão ou pelo menos  coloca um posta pq eu sei que tem muita genti que le e nao responde ai eu fico sem saber se esão lendo e tals.

AS NOVAS SEGUIDORAS SEJAM MUITO BEM VINDAS E  POR FAVOR EU TENHO MEDO DE FANTASMAS ENTÃO NÃO EJA UMA POR FAVOR! XD