Capítulo Seis
Julho, 2006
Demetria abriu a porta do quarto quase contra sua própria vontade. Inspirou bastante ar e o prendeu antes de entrar, tentou controlar suas emoções ao dar o primeiro passo. O quarto de Stella continuava intocado. Dava um peso no coração limpar tudo, mas precisava ser feito. Demi andou até o armário da filha, carregando várias caixas de papelão, e aos poucos começou a tirar todas as roupas das gavetas e colocá-las na caixa.
Demetria tentou ignorar o que estava fazendo, mas era praticamente impossível. Quando acabou as gavetas e começou a guardar os brinquedos de Stella, começou a sentir as lágrimas caírem novamente. Limpou-as rapidamente, antes que fosse demais para parar. Não é nada demais, dizia para si mesma, só iria doar as roupas e brinquedos da filha para alguém que precisasse mais. Para uma criança que, de fato, poderia usá-los.
Isso era o certo a fazer.
Após encher quatro caixas, Demi finalmente parou para respirar. Observou o quarto a sua volta e decidiu que já tinha encaixotado quase tudo. Até mesmo o lençol da cama de Stella já não estava mais lá. Demetria juntou os bichinhos de pelúcia que estavam na estante e colocou dentro de um saco-plástico. Parou quando viu o ursinho preferido de Stella , não conseguia aceitar que outra criança brincaria com ele. Por um segundo pensou que se sua filha não poderia brincar, ninguém deveria poder. Ela sabia que estava sendo egoísta, mas ao mesmo tempo não suportava a ideia de dar tudo assim, alguma coisa ela tinha que deixar, não é?
Antes que mudasse de ideia, deixou todas as caixas ali e andou discretamente até seu quarto, como se estivesse fazendo algo ilegal, e escondeu o urso de pelúcia no fundo de seu armário. Ninguém precisava saber daquilo.
- Demi ? O que você está fazendo? – Catherine perguntou, parada na porta do quarto.
- Nada – Respondeu normalmente, sem deixar que a irmã percebesse o que tinha feito – Estou só terminando de organizar as coisas de Stella.
- Então por que está no seu quarto? – Questionou, erguendo uma sobrancelha.
- Só fui ver se tinha alguma coisa dela guardada aqui – Inventou uma desculpa qualquer.
Demetria saiu do quarto, voltando para o quarto que costumava ser da filha e pegando as caixas com as roupas. Colocou tudo dentro do carro, como se estivesse fazendo uma mudança. Ao chegar a fundação para a qual iria doar os objetos e roupas, se sentiu melhor ao notar que tudo seria doado a crianças que realmente precisavam.
- Quantas coisas – A secretária que estava recebendo as doações falou, observando a quantidade de caixas que Demi trazia – Costumamos receber pequenas quantidades de cada vez, as crianças costumam ir doando aos poucos – Ela completou.
Demetria sentiu o estômago contrair ao perceber que ela achava que estava doando apenas porque sua filha tinha crescido, e parado de brincar. Sem querer falar sobre isso, Demetria apenas assentiu e saiu dali o mais rápido que podia. Talvez devesse ter deixado Cath fazer isso por ela, mas insistiu, disse que ela mesmo tinha que doar as coisas de Stella. Como se fosse um ritual para a aceitação de sua morte.
- Já voltou? – Catherine perguntou, ao ouvir a porta bater e ver Demetria entrando na sala.
Demi assentiu, sentando-se ao lado da irmã. Tentou adivinhar o que Cath assistia, mas chegou a conclusão que não conhecia o programa. Suspirou, sem saber o que fazer. O quarto de Stella estava vazio agora, mas ela não se sentia melhor com isso. Não sentia como se tivesse deixado para trás a filha e a depressão ou jogado a tristeza fora, como fizera com as roupas e os brinquedos da menina. Sentia-se exatamente igual ao dia anterior.
Não estava mais deprimida, mas continuava vazia, sentindo a falta da filha e do marido. Eles eram a primeira coisa que pensava ao acordar e a última antes de dormir. Mesmo em seus sonhos, era em Stella em quem ela pensava. Algumas vezes lembrava-se de como era antigamente. Alguns sonhos eram apenas memórias, outros eram desejos de como ela queria que seu futuro tivesse sido. Como ela queria que o futuro de Stella tivesse sido.
Enquanto estava acordada, às vezes conseguia se distrair com outros assuntos. Assistia à televisão e ignorava o resto do mundo, conversava com Catherine e realmente se interessava pelo o que a irmã contava. No fundo, porém, tudo era sobre a filha. Aquele era o quarto em que Stella dormia, a sala em que ela assistia televisão e a cozinha em que ela tomava café-da-manhã.
Se ela queria recomeçar a vida, teria que deixar tudo para trás. Não podia ficar em um lugar cheio de memórias, assim nunca conseguiria. Percebeu então que Joe tinha razão em ter ido embora dali o mais rápido que pôde. Achava que ele tinha feito isso por ela, por que ela pedira ou por não suportar mais encará-la. Mas tinha mais, ela notou, aquela casa era muito cheia de lembranças. Para suportar tudo, precisava antes ficar um tempo afastado – o que não significava que nunca voltaria – apenas para que conseguisse guardar as memórias em seu lugar certo, o passado.
- Preciso sair daqui – Verbalizou seus pensamentos, despertando a atenção da irmã – Preciso me mudar, Catherine.
- Do que você está falando?
- Não posso mais continuar nessa casa. Eu não vou melhorar enquanto eu não sair daqui – Falou, com um tom desesperado na voz.
- Ok, Demi , vamos começar a procurar algum lugar amanhã então – Cath falou, tentando acalmar a irmã.
A verdade é que Catherine já queria sair daquela casa há muito tempo. Sabia que chegaria o momento em que Demi resolveria que não podia continuar ali, já vinha procurando apartamentos há um tempo e estava quase alugando um; agora que tinha a confirmação da irmã, só tinha que fechar o contrato com o dono do local.
Sentia que agora sim Demetria voltaria. Elas mudariam-se para algum lugar novo e, talvez, daqui algum tempo ela poderia arranjar um lugar só para ela, deixando Demi se cuidar sozinha – ou com outra pessoa.
Suspirou, feliz com a evolução que Demetria já tinha feito.
Agosto, 2006
Joseph estacionou na garagem, sentindo-se nervoso por estar novamente em casa. Seus amigos tinham perguntado se ele não queria ficar um tempo na casa deles, mas ele rejeitou dizendo que já estava na hora de voltar. Tinha saído há mais de quatro meses, já estava pronto para encarar tudo novamente. Pegou suas malas desajeitadamente, tentando levar tudo ao mesmo tempo.
Ao abrir a porta da casa, sentiu o vazio do lugar. Nada que ele não esperasse.
Mantinha certo contato com Catherine, e Demetria , às vezes, falava com Kevin , então sabia que sua esposa tinha se mudado para um apartamento em outro bairro fazia quase um mês. Ela não levara nada da casa, ele percebeu. Ou quase nada, notando que alguns objetos de decoração não estavam mais no lugar. As fotos, porém continuavam todas ali.
O que fazia sentido, é claro, já que ela estava tentando fugir das duras memórias. Joe deixou as malas jogadas ali no meio do caminho mesmo e foi ver o resto da casa, constatando o que mduara nos últimos meses. Viu que a cozinha estava praticamente vazia – Demetria levara as panelas, os copos e os talheres -, os objetos maiores da casa continuavam todos ali – as mesas, televisões, sofás e cadeiras – mas os menores haviam sido levados – almofadas, vasos, laptops e livros.
Quando, por impulso, abriu o quarto de Stella, levou um susto por notar que não havia absolutamente nada ali. As paredes continuavam pintadas de rosa claro, mas todo o resto havia simplesmente desaparecido. Certo, Catherine havia contado que Demetria dera para caridade os objetos da filha, mas ele não imaginara que tinha sido, literalmente, tudo.
Saiu do quarto, fechando a porta. Era melhor assim mesmo. Foi para o quarto do lado, o que havia sido dele e de Demi , tudo continuava exatamente igual, até mesmo os pequenos objetos continuavam ali. Joe se aproximou da mesa de cabeceira, para ver a foto da lua-de-mel, mas encontrou um pequeno pedaço de papel ali. Pegou, sem saber o que esperar, reconheceu a letra de Demetria .
“Joe , eu - “ era tudo o que estava escrito. Uma frase incompleta. Depois de tudo, não havia muito o que dizer. Mas aquela pequena frase não terminada, fez brotar um sorriso no rosto de Joseph , porque, ele percebeu, aquele pedaço de papel dizia tudo o que ele precisava saber. Ele e Demetria não haviam terminado, assim como aquela frase.
Obviamente não estavam mais juntos, e provavelmente não estariam por algum tempo. Entretanto, não significava que tinham terminado, eles pertenciam um ao outro, eles ainda estavam casados e nenhum dos dois iria, tão cedo, pedir o divórcio. Joseph pegou o papel e guardou na gaveta. Um dia, pensou, ele teria o fim dessa frase.
Agora, cada um deles deveria seguir seu próprio caminho e achar sua maneira de lidar com a perda. Deveriam superar a morte da filha, recuperar suas vidas antes de voltarem a ficar juntos, antes de voltarem a ser felizes por completo.
Quinze coment's para o proximo
ta PERFEITO
ResponderExcluiras vezes eu quase choro enquanto leio os capitulos são tão lindos
POSTA LOGO
BeiJemi
awn que perfeito. mto emocionante pode postar mais
ResponderExcluirpoooooooosta!!!!!!
ResponderExcluirTa lindo,
ResponderExcluirposta logo
Beijinhos
Cada capítulo mais perfeito do que o outro
ResponderExcluircap perfeito...
ResponderExcluirq bom q a demi ta melhorando e joe achou uma frase nao temrinada, q fofo, eles tem q ficar juntos....
ps: uma dica, em vez de botar so parte 2, ficaria mais facil se colocasse capitulo 6 parte 2, eu me encontraria mais facilmente se possivel...
heheh...
bjo bjo e posta logo
Estou VICIADA, posta logo !
ResponderExcluirSelinhos pra você no meu blog (:
ResponderExcluirhttp://jemifan-stories.blogspot.com/2012/02/muitos-selos.html
Beijos*
meu deus, choro rios com sua fic! hahah muito boom ! parabéms, posta logo ;)
ResponderExcluir