sexta-feira, 6 de abril de 2012

Capítulo Dezesseis 
Parte 2


Outubro, 2010

Demetria sentiu os seus olhos ficarem marejados só de olhar para a casa, que parecia quase imutável. Fechou os olhos ao lembrar de sua última visita, quase podia ver Stella correndo pela escada, apertando a campainha até o pai abrir a porta e a pegar no colo. Lembrava como Stella estava animada para viajar, como ela estava morrendo de saudades de Joe e contava os dias para chegar na Califórnia. Demetria lembra-se de como estava ficando irritada com as perguntas de Stella, entristecia-se ao saber que não apreciara completamente todos os momentos da pequena vida da filha.
Joe colocou as mãos nas costas de Demi , encorajando-a a andar. Meio hesitante, ela subiu os degraus, esperando Joseph para abrir a porta. Ao contrário do que secretamente imaginava, a casa não havia ficado completamente abandonada nos últimos cinco anos. Na verdade, ela sabia disso, quase todos os outros casais utilizavam a casa normalmente, nenhum deles relacionava a casa com Stella.
Ela entrou na casa, deixando sua pequena mala no sofá da entrada. Eles ficariam apenas pelo final de semana, Demetria achou que seria o suficiente e, de qualquer forma, ela não poderia tirar uma folga muito maior tão em cima da hora.
Demi suspirou ao olhar para todos os cantos da casa. Olhando assim, ela nem parecia tão assombrada, mas se ela pensasse um pouco mais cada canto daquele local gritava Stella para ela. Demetria estava acostumada com isso em sua própria casa em Londres, ela tivera bastante tempo para se adaptar, entretanto essa era a primeira vez que punha os pés na Califórnia, desde novembro de 2005.
- Nós podemos sair daqui? – Ela perguntou, procurando por Joe , que ainda estava parado na porta.
- Pensei que o objetivo de vir era enfrentar as memórias. Isso não vai acontecer se ficarmos fora de casa o tempo inteiro – Reclamou, mas abriu a porta de novo.
Demetria sabia daquilo, mas teriam muito tempo ainda para isso. Esses seriam dois longos dias, ela previu.

Eles andaram pela rua em silêncio, procurando por algum lugar que pudessem almoçar. Os dois estavam cansados na viagem de avião e queriam ir tomar banho e dormir, porém qualquer alternativa era melhor do que ficar naquela casa. Mesmo que todos os lugares contessem lembranças da filha. Pelo menos, nem todas as lembranças eram ruins.
Acabaram parando em um restaurante que ficava próximo da casa. Já tinham comido lá muitas vezes e o cardápio não havia mudado muito nos últimos anos – era o tipo de local que o cardápio não mudaria nunca. Nenhum dos dois conversou muito enquanto comiam, tentaram quebrar um pouco a tensão, mas parecia quase impossível.
- Você quer voltar? – Joe perguntou, depois de pagarem a conta, ainda sentados à mesa.
- Ainda não – Respondeu – Eu queria ir até o lugar que você a levou. O morrinho perto da praia – Disse, com uma voz quase inauditível.
Joe não respondeu nada, apenas encarou a eposa como se ela fosse maluca. Por que ela iria querer visitar o local em que Stella morreu? Por que ela iria querer fazer uma coisa dessas? Joseph não poderia voltar lá, era mais fácil simplesmente enfiar uma faca em seu peito. Entretanto, ele sabia que Demi estava falando sério, ela realmente queria ir até lá. Era fácil para ela pedir algo assim, ela não estava presente, não tinha memórias do acidente de carro, não levava consigo a culpa de ter provocado a morte da filha.
- Vamos, Joe , já estamos aqui mesmo.
- Não lá, Demi , eu não posso – Ele disse, levantando-se da mesa sem aviso prévio, fazendo com que Demi ficasse alguns segundos atrasada.
- Pode sim, Joseph . Eu vou estar lá com você. Se você quiser voltar, eu vou voltar sem dizer uma palavra.
Joe não queria, aquilo era pedir demais. Mas ele havia concordado em vir com Demi para a Califórnia, não tinha? O que estava esperando, uma viagem a turismo? Se eles realmente queriam fazer isso, iam fazer direito. Apenas assentiu com a cabeça, pegando a mão de Demi e indo em direção a tal praia.

Como resolveram fazer o caminho todo a pé – nenhum dos dois teria coragem de fazer aquele caminho de carro – acabaram demorando mais tempo do que o planejado subindo, já estava quase na hora do pôr-do-sol quando chegaram. Era ironico, é claro, que fora com esse objetivo que Joe levara Stella até lá, para ver o sol se pôr.
Os dois ficaram apenas olhando a vista ao chegarem. De fato, era muito bonita. Talvez fosse bonita o suficiente para ser o último lugar que alguém veria na vida. Se o “alguém” não fosse uma criança. Se o alguém não fosse sua filha.
Demetria não tinha nenhuma lembrança do local, não era tão doloroso assim. Ela conseguia imaginar Stella nesse lugar. Ela imaginava que a filha tivesse gostado, que ela tinha morrido feliz, pelo menos. O sol já começava a descer em direção ao mar e Demetria se perdeu na beleza da paisagem. Sim, era uma bonita imagem para ser a última. Sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto, mas não chorava especificamente de tristeza.
Ela via a filha naquela vastidão alaranjada que era o céu. Por alguns segundos, desviou seus olhos do sol e olhou para seu lado e viu uma pequena criança olhando para ela, sorrindo. Nunca saberia se havia imaginado aquilo, se fora causa de seu cérebro cansado ou se, nunca se sabe, tinha realmente acontecido, mas, naquele momento, ela realmente vira Stella. Não uma lembrança, ela realmente vira a filha. Ela viu Stella observar o sol se pôr ao seu lado. Demetria fez menção de segurar a mão da filha, mas ela apenas se afastou, ainda sorrindo e balançou a mão dando tchau. E então andou em direção ao mar, como se o céu fosse feito de terra e pudesse caminhar pelas nuvens.
Stella ficaria agora para sempre naquele local. Brincando em meio as nuvens, mergulhando no mar, observando a tudo e a todos. Demetria sabia que sua alma estava em paz. Estava tudo bem agora.
Antes de que pudesse perceber seu rosto estava completamente coberto de lágrimas. Sentiu Joe apertando sua mão e se sentiu mal por não ter prestado atenção nele durante todo esse tempo. Olhou para o marido, percebendo que ele também chorava. Não sabia se ele também havia visto Stella e não correria o risco de perguntar e parecer maluca. Abraçou Joe pelo lado, tentando reconfortá-lo, sabendo que ele precisava mais do que ela, naquele momento.
E ele precisava. Joseph não conseguiu conter suas lágrimas desde que chegara no local. Eram muitas lembranças. Lembranças de sua última tarde com Stella. Ele havia prometido que a traria outro dia para ver o pôr do sol, sem saber que nunca teria essa oportunidade. Lembrou-se dos malditos paparazzi que ficaram o incomodando. Lembrou-se de todos os seus erros que o levaram a bater o carro naquele dia. Se tivesse esperado o sol se pôr, como Stella pedira, será que tudo teria acontecido da mesma maneira?
Não adiantava pensar nisso. Estava ali para se livrar das armaguras, não para adquirar mais. Queria ir embora dali, mas Demi estava tão entretida vendo a vista, que ele não poderia pedir. Ele observava Demi um pouco afastado quando pareceu surgir, no meio do nada, uma menina de mais ou menos três anos ao lado da esposa. Joe paralizou, achando que havia enlouquecido. Desde quando ele tinha alucinações com a filha? Provavelmente era só uma criança parecida com ela. Mas não era, a menina olhou em sua direção, aquela era Stella.
Joe não sabia como, não entendia como podia estar vendo Stella, mas estava. Ele se aproximou, ficando ao lado de Demetria , porém com os olhos atentos a filha. Stella sorriu para ele. Não era um riso, mas também não chegava a ser um sorriso triste. Era um sorriso de alguém que estava se despedindo, mas por vontade própria. “Está tudo bem, papai”, Joe pensou ter escutado, mas a boca da menina não se mexia, era tudo coisa da sua mente, “Eu estou bem. Você precisa me deixar ir”. As lágrimas escorriam mais intensamente por seu rosto agora, mas não tinha ninguém ali para ver e se importar. Sem saber o que fazer, Joe apenas acenou para a filha que repetiu o gesto, virando-se em direção ao abismo e caminhando para o além.
Stella estava livre agora. Estava livre para fazer o que quisesse com a eternidade que a aguardava.
Demetria o abraçou e Joe correspondeu o abraço. Eles estavam prontos para seguir em frente agora. Também estavam livres.

Eles entraram na casa de mãos dadas, mas por algum motivo, ela já não parecia mais tão assustadora. Era só uma casa, afinal. Certamente, guardava muitas memórias tristes, porém guardava também outras lembranças. E eram essas lembranças que deveriam ser lembradas, Demetria pensou.
Os dois estavam quase desmaiando de exaustão, já que tinham passado horas no avião para chegar à Califórnia e fazer uma caminhada, seguida de um grande cansaço emocional. Tudo o que queriam fazer era deitar na cama e dormir pelo resto do dia seguinte. Entretanto, Joseph fora tomar banho, deixando Demetria sozinha no quarto. Percebendo que se continuasse parada ali, acabaria dormindo e depois seria difícil acordar para tomar banho, ela resolveu se levantar.
Começou a passear pela casa, observando todos os detalhes. Tudo ali a lembrava de Stella, daquela última noite. Mas já não doía tanto. Ela sabia – ela sentia – agora que Stella estava em paz. Chegando até sua sala, pegou sua mala, que ainda estava jogada no sofá, com o objetivo de pegar sua camisola para dormir. Ao abrir a mala, porém, ela achou uma série de álbuns e vídeos que ela havia trazido, aquela era a viagem de superação, afinal.
Quase que hipnotizada, ela pegou o álbum, sentando-se no sofá e começando a folheá-lo. Ali estavam guardadas todas as fotos de Stella, bom, quase todas. Demetria de vez em quando as via, quando sentia muita saudade da filha, mas normalmente acabava se entristecendo e guardando-as. Demetria sentia-se nostálgica, ao virar as páginas e observar a filha crescendo. Ela ficava feliz por terem tirado tantas fotos de Stella, assim tinham guardado todos os momentos da filha.
Stella não vivera uma vida muito longa, mas fora feliz. E no fim, era isso que importava.
- O que você está fazendo? – Joe perguntou, aparecendo de repente – Já terminei, você pode ir tomar banho agora, se quiser.
- Estou vendo umas fotos de Stella – Ela disse, sorrindo para o marido – Você se lembra desse dia? – Perguntou, mostrando algumas fotos de quando Stella tinha dois anos – Ela estava tão animada...
Notando que a esposa não levantaria dali tão cedo, Joseph se sentou ao seu lado, pegando um outro álbum que estava jogado de lado e folheando-o também. Eram as fotos de quando Stella ainda era bem pequena, por volta dos três meses. Ela era a coisa mais preciosa do mundo, tudo o que ele poderia pedir por. Era tão pequena, tão linda. Ele se lembrava de todo o trabalho que era cuidar de um bebê e como mesmo assim valia tão a pena.
Demetria olhou para as fotos que ele via e sorriu, pensando o mesmo que ele.
- Eu quero outro bebê – Ele falou, expressando pela primeira vez diretamente sua vontade e não porque Demi queria.
Ela apenas abriu mais o sorriso, tirando o álbum que estava em seu colo e o que estava com Joe e os colocando para o lado, aproximou-se do marido e o beijou.
- Vamos fazer um bebê, Joseph – Ela riu, puxando-o para cima dela.
Eles passaram o dia seguinte juntos, deitados na cama ou vendo vídeos e fotos de Stella. Pela primeira vez, não lamentaram sua morte, mas celebraram sua vida.
Eles finalmente continuariam a família.

15 coment's para o proximo

16 comentários:

  1. amei
    capitulo emocionante
    posta logo

    ResponderExcluir
  2. AAAAAAAAA
    adorei
    cap perfeito
    posta logo

    ResponderExcluir
  3. Awn lindo *-*

    Agora sim eles serão felizes !

    ResponderExcluir
  4. AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH Q CAPITULO FOI ESSE? LINDO DEMAIS...................... eu fiquei mto emocionada agora.. posta logo pleaseeeeeeeee

    ResponderExcluir
  5. Perfeito,que bom que eles estão bem agora. Posta logo

    ResponderExcluir
  6. ai que lindo :3 bebêêês :D bem que poderia ser gemeos né hdsuafhiafhidsa
    posta maaaaaaaaaais

    ResponderExcluir
  7. Posta maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaais :D

    ResponderExcluir
  8. cap perfect...

    cap mais fofo da fic, fiquei arrepiada com todo o cap

    bjo bjo e posta logo

    ResponderExcluir
  9. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  10. selinho pra vc no meu blog lala-eternamentejemi.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  11. pooooooooooooooooooooooooooooosta logo mulher carequinha!!!vc quer me infartar de curiosidade????????????posta logo,ok???ok!

    ResponderExcluir