Prólogo
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Segunda – feira, 20 de abril
O Dr. Jason Salomon Golding, membro eminente da Associação
Norte-Americana de Psicologia e autor de O Recondicionamento da Vida em 21 dias
e Afinando-se para o Amor, não poderia
imaginar um infortúnio maior.
- É muita falta de sorte – repetia, com a muita pena de si mesmo.
Sentia-se solitário, mas de um jeito romântico, lamentoso.
Talvez devesse escrever um livro sobre isso, que teria como titulo O homem solitário.
Ficou olhando para o vazio, pensando em nomes de capítulos e títulos alternativos,
mas logo se lembrou da falta de sorte a chateação venceu a melancolia. Deu um
empurrão calculado na mesa do hospital; o suficiente para agitar o pote de
gelatina verde-brilhante e mostrar a Mônica que ele estava sofrendo, mas não
para vira-lo e provocar uma verdadeira bagunça.
-Ah, francamente, Jay... - Mônica o encarou por sobre o
ombro magro. Estava observando o trafego pela janela, decerto lamentando a
perda das compras e do almoço no Four Seasons. Enquanto isso ele estava ali,
morrendo.
- Entre todos os azares, ter logo um ataque cardíaco-
lamentou – se ele outra vez.
Estivera contando o infortúnio aos paramédicos, à esposa,
aos enfermeiros da emergência, a qualquer um que quisesse ouvir, desde o
momento em que levara as mãos ao peito e caíra dramaticamente de joelhos no pódio
do Décimo Simpósio Anual de Redução do Estresse, para o qual viera de São
Francisco a Nova York, encarregada da palestra principal. Acabara de ser
apresentado- sorriu de novo, ao recordar - e de agradecer ao presidente da ANP
por suas palavras gentis, quando sentiu a dor lancinante a lhe esmagar o tórax. Ele havia caído com as
mãos sobre o peito, fazendo uma careta por causa da dor que, apesar de real,
agora já se fora.
- Haverá outras conferencias – disse Mônica, afastando do
rosto uma madeixa de cabelos castanho-avermelhados, com um dedo cuja unha fora
pintada em estilo francês.
Jay suspirou fundo. Pegou a brochura da conferencia na mesinha
de cabeceira e a examinou, permitindo-se experimentar toda a profundidade do
seu desapontamento, Seu rosto o encarava de volta do panfleto. Ele havia
assumido uma posição sombria na foto, com o queixo apoiado reflexivamente na
mão. Constatou de novo como o transplante capilar tinha preenchido bem aquele
trecho perturbador na testa. Não era farto, mas também não era ralo. Agora que
podia avaliar o impaco causado pela fotografia, estava satisfeito por ter
deixado o editor convencê-lo a coloca-la na orelha de seu livro mais recente, Celebrando a mim mesmo.
Passou os dedos pelos
cabelos novos e foi golpeada outra vez pelo pesar dessa oportunidade
desperdiçada. Haveria outras conferencias, mas perder logo aquela fora um golpe
doloroso. Mônica estava errada ao insinuar que o motivo de ele ter aceitado o
convite era se mostrar diante de pessoas formadas nas escolas que o haviam
rejeitado. Mesmo assim, ser convidado a fazer a palestra principal não deixava
de ser uma espécie de vingança. Conseguiria, enfim. Dois livros, cada um com
seis meses na lista de Best- Sellers do
New York times, e o terceiro a ser lançado no mês seguinte. Ele, Jason
Golding, o convidando para falar numa conferencia mais prestigiosas da AAP.
Agora, isso. Era muito injusto.
- Oitenta e cinco por cento de sua artérias coronárias estão entupidas- disse o
cardiologista.
A cirurgia aconteceria no dia seguinte, no Centro Medico de
Universidade de Nova York. Justamente quando ele deveria estar terminando a
palestra principal. De fato, era uma coisa incrível.
Jay enxugava a testa. Devia estar fazendo trinta graus la
dentro.
- Mônica, peça a alguém para ligar ar. Estou sufocado.
-Esta ligado, querido. Tente relaxar e vai se sentir melhor.
– Ela ligou a televisãomcom o controle remoro que estava preso na cama
hospitalar, passou por alguns canais e começou a assistir a Holywood
Squares.
Monica parecia uma criança, assistindo à droga da TV,
enquanto todo o seu trabalho ia para o inferno numa cesta de lixo.
- Você cuidou das coisas que pedi, Monica? – perguntou rispidamente-
Teve noticias daquele empreiteiro?
- Qual, querido? – Ela cruzou as pernas compridas, com a
tranquilidade graciosa que um dia o atraia.
- Aquele que o Metzger recomendou, de Petaluma.
-Acho que ele vai dar uma olhada no consultório amanhã-
Monica mencionou o controle remto. O seriado de Whoopi Goldberg foi substituído
por Ricky Lake. Monica assistia
atenta, com os lábios rosados ligeiramente entreabertos.
- Bom, encontre o fax do hospital e peça para o sujeito me
mandar um fax de volta com a avaliação, de imediato. O orçamento dele é o
ultimo; quero começar logo.
Monica ergueu ligeiramente o queixo, um gesto que
significava concordância, sem tirar os olhos da televisão. Jay balançou a cabeça.
- Quanto mais rápido ajeitar o consultório, mais cedo
poderemos começar com os seminários – esclareceu ele, e teve como resposta
outro movimento de queixo.
Pensou nos seminários, por fim animados. Eles multiplicariam
seus rendimentos.
- Pense nisso, Monica- falou, mais para si mesmo, uma vez
que ela estava envolvida nas confissões de gêmeos idênticos que haviam trocado
de parceiros.- em vez de receber um paceinte cobrando duzentos dólares a hora,
posso atender a dez ou 12 de uma só vez e cobrar de todos.
“E
sem ouvir problemas individuais”, lembrou-se. Sem crises. Sem telefonemas no
meio da noite. Franziu a testa, lembre-se
de um detalhe de ultimo minuto que tinha deixado por conta de Monica.
- Monica,
você disse a Angie para trocar a mensagem da secretaria eletrônica?
-
sim... Telefonei para o consultório pessoalmente. Agora a mensagem diz que quem
tiver alguma emergência deve telefonar para o
Dr. Hammond, e todos os ouitros devem deixar recado. Angie disse que
verificaria os recados todos os dias de casa.
-
Claro- disse ele, sem acreditar sequer por um segundo.
Mesmo
assim, era menor dos males pagar a Angie um salário integral para ficar parada
durante três semanas enquanto o consultório era remodelado, ou confiar nela
para retornar alumas ligações. Não que Jay ficasse chateado por perder alguns
telefonemas. Ele sentia uma profunda compaixão pela humanidade como um todo.
Visualizava-a como ovelha sem pastor,
massas arrastadas, esse tipo de coisa. Mas quando telefonavam um de cada vez e
gemiam em seu ouvido, já era outra coisa.
Por
isso os grupos eram uma ideia tão bela. Sentiu a empolgação invadi-lo de novo.
Chamaria sua oficina de Experiência
Genesis. Recomeçar a vida. No iniciaria reuni-los num circulo, depois
começaria a junta-los em pares para fazer exercícios ou simulação de
renascimento na banheira quente. Ele so precisaria andar pela sala e se certificar de que não houvesse emergências
psíquicas. E quanto antes as paredes internas do consultório fossem derrubadas e a banheira instalada, mais
cedo ele começaria a trabalhar com os grupos.
-
Qual é mesmo o nome do empreiteiro?
- São
dois sócios, um homem e uma mulher- disse ela, remexendo a bolsa- Aqui está. –
Ela pegou o cartão de visitas e lhe entregou:
JOSEPH
JONAS E MILEY CYRUS, JONAS-CYRUS CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS GERAIS.
Sobre
o logotipo de bom gosto mostrando um esquadro de pedreiro, e um lema em letra
floreada.
Transformamos seu sonho em realidade
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Desculpe pela demora, hoje o dia foi corrido. Amanha posto o resto do prologo e do primeiro capitulo.
Beijocas e comentem...